Para detectar de maneira rápida uma fonte de poluição marinha, é necessário o uso de sistemas de vigilância capazes de monitorar grandes áreas em intervalos regulares. Um derramamento de óleo no mar pode ser detectado por imagens de satélite ou de aeronaves, avistamentos por embarcações e observações da costa. Sistemas de monitoramento por satélite permitem determinar a origem do derramamento quase em tempo real, permitindo uma resposta rápida das autoridades responsáveis pela contenção do óleo e garantindo a responsabilização do poluidor pego em flagrante.
Investimentos públicos são fundamentais para o desenvolvimento de iniciativas que possam contribuir para o monitoramento, planejamento, prevenção e resposta a emergências na costa brasileira
Embora incidentes em grande escala recebam mais atenção pública, como estamos vendo atualmente para a costa do Nordeste, um volume significativo de óleo é liberado por embarcações no meio marinho através de descargas ilegais menores, porém recorrentes, causadas por negligência ou deliberadamente para obter vantagens econômicas, principalmente quando o risco de ser penalizado é reduzido. Para aumentar a probabilidade de identificação dos poluidores e reduzir as descargas ilegais, a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA) opera o serviço CleanSeaNet para detecção de derramamento de óleo em águas europeias desde 2007, utilizando imagens de satélite do Copernicus Maritime Surveillance (CMS). O serviço detecta milhares de possíveis derramamentos por ano, que são verificados por aeronaves ou pela guarda costeira.
A integração de sistemas de monitoramento por satélite com previsões meteo-oceanográficas, obtidas a partir da aplicação de modelos numéricos, permite determinar com antecedência a trajetória que o óleo irá percorrer e as prováveis áreas atingidas, sendo fundamental para a eficácia de ações emergenciais e minimização do impacto ambiental na zona costeira. Uma iniciativa do Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR, em parceria com a EnvEx Engenharia e Consultoria e o Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa, visa à criação do Observatório Brasileiro do Mar, um serviço de monitoramento costeiro que integra numa plataforma on-line resultados de previsão da circulação oceânica, obtidos por meio de modelos numéricos para diferentes domínios espaciais, observações de satélite e in situ, posição de navios em tempo real e a possibilidade de simulação sob demanda da dispersão de derramamentos de óleo, sendo apoiada pelo programa europeu de monitoramento do meio marinho Copernicus Marine Environment Monitoring Service (CMEMS).
VEJA TAMBÉM:
- Evolução do pré-sal e mudanças na indústria do petróleo e gás natural (artigo de Fabrízio Nicolai Mancini, publicado em 27 de outubro de 2019)
- O melhor do Brasil está no Nordeste (artigo de Thales Aguiar, publicado em 25 de outubro de 2019)
- Pedido de socorro que vem dos mares (artigo de Janaína Bumbeer, publicado em 30 de outubro de 2019)
O aumento da exploração de petróleo e das atividades portuárias no Brasil eleva o risco de acidentes envolvendo derramamentos, além do provável aumento das descargas ilegais, podendo afetar negativamente outras importantes atividades socioeconômicas, como turismo, pesca e aquicultura. Investimentos públicos são fundamentais para o desenvolvimento de iniciativas que possam contribuir para o monitoramento, planejamento, prevenção e resposta a emergências na costa brasileira, protegendo a biodiversidade marinha. Talvez o responsável por este derramamento no Nordeste nunca seja encontrado, mas a falta de sistemas de monitoramento e de previsão que poderiam ter localizado a fonte e contribuído para a contenção do óleo de forma eficiente, que teriam evitado ou ao menos minimizado o impacto na zona costeira, é de responsabilidade dos gestores públicos.
Guilherme Franz é doutor em Engenharia Ambiental pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, com foco em modelagem numérica de sistemas costeiros.