A afirmação do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de que a Estrada da Graciosa deve ficar interditada por pelo menos seis meses, depois do deslizamento que interrompeu a pista, em 14 de março, nos traz à mente uma outra época em que a estrada foi abandonada.

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A Estrada da Graciosa foi o primeiro acesso ao Litoral paranaense. Antes da sua construção, havia apenas uma trilha para tropeiros, o Caminho do Itupava, que supria o transporte de cargas de erva-mate para os portos de Antonina, Morretes, Porto de Cima e Paranaguá. Vultosas quantidades de erva-mate eram exportadas para o Chile e a Argentina, e por isso, em meados do século 18, foi autorizada a construção da estrada pelo então imperador dom Pedro II. A conclusão da obra levou quase 20 anos, por seguidos entraves referentes a seus altos custos.

Por aproximadamente 100 anos a Estrada da Graciosa foi a única ligação rodoviária entre o Litoral e o Primeiro Planalto. Em 1967 foi construída a BR-277, que transpõe a Serra do Mar, e depois disso a Graciosa passou a ser utilizada apenas por moradores e comerciantes da região de Morretes e Antonina. A estrada ficou abandonada e se deteriorou.

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Esse primeiro abandono acabou somente em 1977, quando se festejou o aniversário de 124 anos da emancipação política do Paraná, pois na programação dos festejos estava a entrega do novo Parque Estadual da Graciosa. Para que a antiga Estrada da Graciosa viesse a se tornar parque, inúmeras obras foram efetuadas, dentre as quais a reforma da antiga estrada, mantendo-se o calçamento original somente na região da Serra do Mar – nos outros trechos não havia possibilidade de recuperação, pois o piso estava destruído pelo tempo.

Hoje, a Graciosa promove o turismo no decurso da via, desenvolvendo as atividades de pequenos comerciantes que sobrevivem exclusivamente desse fluxo. Além disso, a exuberante paisagem é disputada por maratonistas, ciclistas e motociclistas que descem em grupos à nossa região, movimentando o turismo e a gastronomia locais. Somado-se a isso, também existe uma linha regular de ônibus intermunicipal que serve aos moradores de toda a região.

Esses moradores que vivem ao longo da Graciosa estão sofrendo demasiadamente com o impedimento da estrada, pois o sustento dessas famílias decorre da venda de produtos aos turistas, cujo fluxo caiu a quase zero. O bloqueio também prejudica os habitantes de nosso município que se utilizam da estrada para chegar aos municípios de Quatro Barras, Campina Grande do Sul (onde está o Hospital Angelina Caron) e Curitiba. Agora, eles não têm outra opção a não ser a pedagiada BR-277. Nossos comerciantes, incluindo restaurantes e pousadas, estão sendo prejudicados com a queda nas vendas, pois os turistas já não vêm como antes.

A reconstrução da Estrada da Graciosa precisa ser feita em regime de urgência. Seria possível tomar a iniciativa de usar uma solução paliativa, como uma ponte metálica (de uso do Exército), permitindo a passagem somente de veículos leves, visando também ao trânsito de turistas por ocasião da Copa do Mundo em Curitiba – se valer o prazo do DER, perderemos inclusive a oportunidade trazida pela Copa.

Estamos ansiosos pela breve recuperação dessa importante via de acesso à nossa região. A Estrada da Graciosa, que tanto fez no passado e continua fazendo no presente pela economia de nossos nativos, não pode ser abandonada uma segunda vez.

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João Ubirajara Lopes é prefeito de Antonina.

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