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O frio de Curitiba era o mote para o poeta Paulo Leminski de­­clamar em alto e bom som, junto às mesas do velho Bar Pa­­lácio, ao lado do Cine Vitória: "Rio de Janeiro é o mar, Curitiba é o bar e onde beber é legítima defesa"

O melhor do carnaval deste ano em Curitiba foi a música Pour Elise, tocada pelos caminhões da Liquigás – fez chiste um amigo e renomado professor de matemática, que aqui passou as festas momescas por força da convalescência, após um transplante de fígado.

Curitiba: a Capital SPA do Carnaval poderia ser o mote de uma bela campanha publicitária. Ideias para o briefing: espaços públicos silenciosos; caminhadas nos aprazíveis e canoros parques; dezenas de restaurantes vegetarianos, estes abertos, ao contrário dos bares e churrascarias; diárias comparativamente acessíveis dos nossos hotéis; intensa programação religiosa, com orações, cultos, passes e imposição de mãos. Até o benfazejo sol é presença garantida no carnaval, ao contrário dos demais meses do ano e ao contrário das tormentas em outras capitais.

O clima sempre foi alvo do humor, tipo inglês, do curitibano. Este faz blague: Curitiba só tem duas estações: o inverno e a estação rodoferroviária. Ou, o verão de Curitiba é tão bom que até o inverno vem passar aqui. O inverno e a neblina são os que melhor representam o fog londrino e orgulhosamente justificamos que são coisas de primeiro mundo. No entanto, turista bem orientado desembarca em Curitiba com uma camisa regata, um suéter e uma capa de chuva, pois pode aguardá-lo um dia de verão senegalês e no dia seguinte uma temperatura dos Alpes Suíços.

O frio de Curitiba era o mote para o poeta Paulo Leminski declamar em alto e bom som, junto às mesas do velho Bar Palácio, ao lado do Cine Vitória: "Rio de Janeiro é o mar, Curitiba é o bar e onde beber é legítima defesa". E emendava parafraseando Maiakóvski: "Prefiro morrer de vodca nesta cidade a morrer de tédio".

Por muitas décadas, os forasteiros adjetivaram o curitibano como fechado e provinciano. Mas como não se precaver – na época – contra as hordas de jovens catarinas, pés-vermelhos, bugres (mato-grossenses) que aqui se aninhavam com pouca bagagem e muita vontade de se arranjar na vida? O morador típico era reservado sim, porém, possuidor de respostas argutas e, por vezes, de gracejos cavilosos.

Até mesmo contra a própria cidade quando os catarinas e os curitibanos se altercavam em busca do riso. Por que barriga-verde? Cada lado com sua versão, ambas bastante chulas e nada republicanas. E se irmanavam em fazer graça quanto à etimologia tupi-guarani curi-tiba (muito pinhão), que sofria uma prosaica corruptela: cu-ritiba, onde "ritiba" significa "do mundo".

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Jacir J. Venturi, cidadão honorário de Curitiba e mentor do projeto Amo Curitiba – Ações Voluntárias.

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