Detalhe de “Infância de Cristo”, de Gerrit van Honthorst.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público
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No dia 1.º de maio celebramos o Dia Mundial do Trabalho. A atividade humana de trabalhar engloba a pessoa em todas as suas dimensões: inteligência, vontade, afetos, aspirações. “É a primeira vocação do homem: trabalhar. E isso lhe dá dignidade”, disse o papa Francisco em  1.º de maio de 2020). Hoje, coincidindo com o Dia Mundial do Trabalho, muitos recordamos São José Operário.

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A pandemia continua assolando o trabalho de milhões de homens e mulheres: empregos perdidos e aumento da precariedade. Essas duas feridas, desemprego e precariedade, nos interrogam sobre o trabalho do futuro.

Em tantos lugares, a crise sanitária substituiu o trabalho presencial pelas telas do computador no próprio domicílio, com aspectos positivos e negativos. No home office constatamos a glória da técnica e o seu limite. Se, por um lado, houve progresso na eficácia e foram resolvidos obstáculos que pareciam sem solução, ao mesmo tempo comprovamos que a pessoa humana necessita de relações reais, não virtuais, para compartilhar o que cada um tem em seu coração.

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A vocação comum dos homens e mulheres ao trabalho leva-nos a convergir na tarefa de “recriar” o mundo e as suas relações

O tempo transcorrido desde o início da pandemia nos confirma também que a crise é transversal, que afeta toda a humanidade, e que o trabalho deveria estar no núcleo de um futuro melhor. Conservar e criar postos de trabalho, com a criatividade de quem busca o bem dos outros, é talvez hoje em dia um dos imperativos da caridade.

Perante tantas situações pessoais destruídas, o trabalho nos oferece a oportunidade de progredir em outra de suas dimensões: a capacidade de acolhida e abertura aos outros. Na confluência entre ruptura e acolhida ressurge a nostalgia de transcendência, de ir além de si próprio, de cuidar e ser cuidados, de ajudar e ser ajudados, primeiras consequências do reconhecimento da vulnerabilidade. Um trabalho em que caibam a dignidade e o encontro transforma-se em diálogo consigo próprio e com os outros. Apresenta uma finalidade compartilhada, desperta correntes de entendimento, colabora na pronúncia do “nós”, ajudando a superar diferenças e a promover o conhecimento mútuo; enriquece pelo intercâmbio de capacidades humanas e pela participação em processos criativos.

Assim, o trabalho se manifesta em sua verdadeira extensão, como um “lugar” em que todos podemos contribuir com algo, e não só no aspecto econômico. A vocação comum dos homens e mulheres ao trabalho leva-nos a convergir na tarefa de “recriar” o mundo e as suas relações. Por isso, quando o trabalho perde a sua dignidade de diversas maneiras, a pessoa fica distorcida em seu ser mais íntimo.

Na busca de soluções novas, porque não parece haver volta, o amor aos outros impulsiona a criatividade para encontrar esses novos caminhos, junto com os outros cidadãos. Não há um único caminho; há muitos, todos eles guiados pelo serviço, que é elemento integrante do bem comum. Em qualquer caso, a dignidade do trabalho se funda no amor: “O grande privilégio do homem é poder amar, transcendendo assim o efêmero e o transitório. O homem pode amar as outras criaturas, dizer um ‘tu’ e um ‘eu’ cheios de sentido. E pode amar a Deus, que nos abre as portas do céu, que nos constitui membros da sua família, que nos autoriza a falar-lhe também de tu a Tu, face a face. Por isso, o homem não se deve limitar a fazer coisas, a construir objetos. O trabalho nasce do amor, manifesta o amor, orienta-se para o amor”, como lembrou São Josemaría Escrivá em 19 de março de 1963.

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Fernando Ocáriz é prelado do Opus Dei.