Mais este fim de semana e estaremos a dois domingos da fila para digitar os votos no primeiro turno das eleições. Não é uma longa espera para tão murchas expectativas, com as pesquisas anunciando com grande antecedência a reeleição do candidato-presidente, com a ressalva de improbabilíssima catástrofe.

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O prazo curto e a dinâmica da reta de chegada devem ser suficientes para garantir para a denúncia do Tribunal de Contas da União (TCU) – em relatório aprovado por unanimidade, que destaca as suspeitas de superfaturamento e desvio de dinheiro público para a farra eleitoral na confecção de cinco milhões de revistas e encartes de propaganda do governo e do candidato-presidente, distribuídos pelo PT – a honrosa classificação de último escândalo da longa série, com dezenas de brilhantes concorrentes.

São frutos sazonais para ser colhidos no tempo certo. Tal como a marola oposicionista do impeachment do presidente Lula. Passou da hora, a fruta caiu de podre. Outra, só no bis do mandato.

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As cautelas óbvias do bom senso não impedem que se reconheça que o último escândalo do ano é de bom tamanho, nada fica a dever ao do mensalão, do caixa 2, da compra de ambulâncias superfaturadas da Operação Sanguessugas e tantos outros da safra generosa de assaltos aos cofres da viúva.

Entre as suas virtudes não é desprezível a da desmoralização da sovada e cínica alegação de oportunismo eleitoreiro, que é imediatamente colada a toda tramóia que vem à tona nas proximidades das urnas. E tanto serve para os dribles na ética do governo como da oposição. O que sugere a urgência para a definição de um período de carência, de dias ou meses, durante o qual seja proibido aos partidos e à imprensa, denunciar irregularidades no uso dos recursos públicos, mesmo com provas e documentos.

Enquanto a mordaça não é oficializada, vamos continuar a usufruir a contestada liberdade de imprensa. Para, no embalo, reconhecer que o caso das cartilhas é respeitável pelas suas características de trampolinagem envolvendo parceiros de alto coturno. Seu enredo, traçado por linhas curvas, começa engatado no escândalo do mensalão, que é quando pipocam as primeiras denúncias de suspeitas maroteiras com as verbas de publicidade administradas pela Secretária de Comunicação (Secom) da Presidência. Desde o princípio, respingou no governo, castigando o ministro Luiz Gushiken, punido com a perda do cargo, sobrando para a Secom o rebaixamento do status de ministério. Frivolidades burocráticas.

Daí em diante, os passos no calvário com a confirmação das suspeitas, a pilha de provas e o desmonte das explicações oficiais. A Secom, em sua defesa prévia, tentou escapulir pela porta dos fundos, alegando que as cartilhas foram distribuídas gratuitamente pelo PT para poupar o governo de uma despesa inútil.

A prestimosidade espontânea do PT não comoveu o TCU. O relator, ministro Ubiratan Aguiar, pegou o pião na unha e investigou as contas e contratos da Secom, comprovando os desvios de dinheiro para a escancarada propaganda eleitoral do partido, ora pendurado no quintal do governo. Crise no PT com o esperneio dos implicados na negociata, que desemboca na aprovação unânime do relatório do ministro Aguiar.

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A encrenca espreme o ex-ministro Gushiken, que tem o prazo de 15 dias para apresentar a defesa prévia ou devolver ao erário público R$ 11,6 milhões, que é de quanto o TSU calcula o prejuízo,

E sobram piparotes para o esquecido marqueteiro Duda Mendonça, que brilhou na campanha da eleição de Lula, e para a Matisse Comunicação de Marketing, ambos no rol de responsáveis pelas irregularidades.

Todos – Gushiken, Duda Mendonça, o Secom e demais atores da novela, de mão no peito, negam qualquer responsabilidade no caso das cartilhas.

Claro que a pedra rolada para tapar o buraco do escândalo deverá resistir aos frouxos empurrões da oposição. Como manda o figurino, o fio de esperança no milagre de uma subida do candidato Geraldo Alckmin nas pesquisas, levando a decisão para o segundo turno, sustará as ameaças de impeachment de Lula até a contagem dos votos.

Daí para diante não dá para enxergar um palmo adiante do nariz.

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