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Felipe Lima

Os Estados Unidos nunca tiveram dois candidatos tão fracos disputando a vaga ao cargo mais poderoso do planeta. Isso já era visível, mas ficou ainda mais durante o primeiro debate ocorrido esta semana entre os dois. É verdade que debates são shows para indecisos, e tudo que importa é a “linguagem corporal”, a aparência de “presidenciável”. Mas mesmo assim foi assustador.

Não há substância alguma, proposta razoável, aprofundamento de ideias. Se Trump se limita a repetir slogans como “fazer a América grande novamente”, Hillary não fica atrás: posa de defensora dos pobres e das “minorias oprimidas” contra os ricos da elite branca, sendo ela uma multimilionária loira de olhos azuis que navega pelo poder há décadas. É sensacionalismo de um lado, demagogia do outro.

Se Trump achou um bode expiatório para os problemas americanos – a globalização – e apresenta sua milagrosa receita – o mercantilismo ultrapassado –, Hillary também tem o inimigo certo – as elites ricas – e puxa da cartola receita igualmente fantástica – taxar mais os ricos para sua “justiça social”. É protecionismo nacionalista de um lado, marxismo tosco do outro. Narcisista bufão num canto, mentirosa contumaz no outro.

Nenhum liberal clássico ou conservador de boa estirpe se empolga para valer com Trump

Os conservadores tradicionais estão tendo muita dificuldade em apoiar Trump. Não é só seu estilo que incomoda: são também suas ideias. Para quem já teve Reagan como presidente e Mitt Romney como candidato, é um pouco desesperador ter de ir com Trump. Ele faz de tudo para se colar na imagem de Reagan, mas, em que pese alguma semelhança – ambos eram ridicularizados pela mídia e pelos intelectuais –, as diferenças são gritantes. Reagan tinha valores mais sólidos, uma história de luta por esses valores, tinha sido governador, e era um ardente defensor do livre comércio. Trump é um outsider, o que tem sido uma vantagem hoje em dia, com a população saturada do establishment em Washington, mas lhe falta o mínimo de experiência e conhecimento acerca do funcionamento da máquina estatal. E seu discurso geopolítico é isolacionista, o que poderia levar a uma guerra comercial.

Não obstante, muita gente séria tem declarado apoio ao candidato republicano. Por quê? Apesar do receio que Trump desperta nessas pessoas, não é tão difícil entender o motivo. E ele se chama Hillary Clinton. Nenhum liberal clássico ou conservador de boa estirpe se empolga para valer com Trump. Mas a questão é simples: a alternativa é ainda pior. Hillary representa o que há de mais podre na política americana.

Pela imprensa brasileira o leitor nunca ficaria sabendo daquilo que muitos americanos, com acesso a canais como a Fox News e vários jornais, sites e estações de rádio conservadores sabem: Hillary não é a “moderada” que a mídia pinta, mas uma radical inspirada no ainda mais radical Saul Alinsky, alguém que parece disposta a tudo pelo poder, que tem sede de controle e ambição desmedida.

Seus esquemas na Fundação Clinton demonstram uma perigosa simbiose entre poder e grandes empresários, algo que os latino-americanos conhecem bem. Sua retórica “progressista”, ainda pior que a de Obama, representa uma mudança fundamental em relação aos valores tradicionais que fizeram da América o que ela é hoje. Sua visão de mundo não tem absolutamente nada a ver com aquela que permitiu o progresso americano.

É por isso que um pensador sério como Thomas Sowell declara apoio a Trump, a quem ele detesta. Se o magnata “representa riscos múltiplos e potencialmente fatais”, a democrata é “a certeza da desgraça”. Concordo. Trump ao menos é um empreendedor de sucesso, enquanto Hillary representa os sanguessugas populistas no poder. Que venha o bufão. Talvez seu único trunfo seja mesmo Hillary Clinton. Dá calafrio só de pensar...

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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