Há algum tempo venho acompanhando as tendências da tecnologia e sua aplicabilidade no sistema de saúde. Muitas pessoas, especialistas em suas áreas, empresas, médicos e pacientes, imbuídos de um único objetivo: Tornar o sistema de saúde viável. Na balança, milhões de pacientes aguardando atendimento decente do SUS e de suas operadoras. Do outro lado, uma conta gigantesca a ser paga. Como equilibrar essa balança e trazer benefícios reais para quem utiliza o sistema?
O principal responsável pelo sistema sempre foi o médico, aquele que estuda de oito a 11 anos para fazer todo o sistema funcionar. O médico é a porta de entrada do paciente para o sistema e só ele é capaz de dizer, ao dar o seu diagnóstico, as consequências que esse paciente trará ao sistema e quanto ele custará. Posso citar três problemas mais comuns na relação médico-paciente.
Ou a rede pública faz menos consultas do que deveria, ou a rede privada está fazendo mais consultas do que deve
O primeiro é a falta de tempo. Consultas de 15 minutos não resolverão o problema da saúde. Matematicamente, se o paciente precisa de uma hora para tirar suas dúvidas, ele vai marcar quatro consultas para acreditar e entender sua condição. O segundo é a ausência de empatia. Recentemente assisti a um vídeo que mostra o que as pessoas que estão usando o sistema de saúde estão sentindo (“If you can see inside others”). Se pudéssemos ter essa informação antes de iniciarmos uma relação médica, seria ótimo. Mas não temos como saber. Os médicos naturalmente têm suas preocupações e anseios, salas lotadas e contas de consultório a serem pagas, entre diversos outros problemas de rotina. Naturalmente os pacientes estão focados em suas condições de saúde.
Por fim, há a questão da informação para o paciente. Em sua maioria, os pacientes não têm formação na área de saúde. Qualquer que seja o diagnóstico, ele vai recorrer a outras fontes – normalmente o Google – e buscar uma segunda opinião por ter vergonha ou incerteza nas informações passadas pelo profissional. Por isso, é importante que o médico entenda a diferença cultural que pode existir entre ele e o paciente.
No ano passado, o Brasil realizou 586 milhões de consultas. Desse total, 42% (244 milhões) foram realizadas por operadoras de saúde (fonte: ANS) e os outros 58% (342 milhões) foram realizadas pelo SUS, segundo o próprio DataSUS. Uma vez que 25% da população tem plano de saúde e 75% está na rede pública, você consegue perceber o que eu percebo? Ou a rede pública faz menos consultas do que deveria, ou a rede privada está fazendo mais consultas do que deve. Na minha opinião, as duas coisas.
Em pesquisas com pacientes de planos de saúde, foi feita a seguinte pergunta: quanto você acha que seu médico recebe pelo seu atendimento? A resposta foi R$ 200. A pergunta para o médico foi: Qual o valor que você acha justo para a consulta que acabou de realizar? E a resposta foi R$ 240. O valor real? Na média, R$ 57 – que, depois dos impostos, ficam perto de R$ 40, que, com o retorno (prática que não é obrigatória, mas virou diferencial de atendimento), ficam R$ 20.
Eu sempre serei defensor da medicina humanizada. Em uma pesquisa que realizamos na Docway com 100 pacientes, 60% deles disseram estar dispostos a pagar a consulta particular para terem um atendimento diferenciado. Na mesma pesquisa, quando perguntados sobre o valor dispostos a pagar, a resposta dada foi em média R$ 200.
Segundo o estudo, pacientes têm seus planos de saúde para o caso de serem diagnosticados com doenças que possam trazer grandes despesas. Eles não estão preocupados com as consultas, apesar de utilizarem o sistema que dá passe livre para tal. A média de consultas por vida nas operadoras de saúde é de cinco consultas ao ano, segundo dados da ANS.
Passaremos por um fenômeno semelhante ao Uber: pacientes optando pelo melhor serviço, independentemente do valor. A “uberização” da saúde já é um fato e a melhora do atendimento, dando conveniência e praticidade, é aclamada por pacientes. O atendimento domiciliar resgata valores da medicina tradicional e aproxima o médico do paciente e de sua família, tornando o ambiente propício para a evolução da relação médico-paciente, de forma sustentável economicamente.
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