Em junho, a ideia saiu do papel: o Vale do Genoma foi lançado e finalmente se tornou uma realidade. A iniciativa de quádrupla hélice, que envolve governo, sociedade civil, universidade e empresas, é um pequeno passo para algo gigante que precisa ser observado de perto. Tal realização coloca Guarapuava pareando o mundo em algo totalmente disruptivo, a combinação entre estudos genômicos e inteligência artificial. A revolução da ciência combinada ao uso do mapeamento genético e sua aplicação em diversas áreas impulsiona a indústria brasileira em uma nova perspectiva e nos coloca em outro patamar. O Paraná não para!
O estudo do genoma está interligado à inovação dos setores: saúde, agro e pecuária. Estas são soluções conectadas à convergência biodigital – a meu ver, o presente e o futuro das startups brasileiras. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mais de 26% do PIB brasileiro está ligado ao agronegócio, e em time que está ganhando só se mexe para continuar campeão. O Brasil tem um dos melhores sistemas de pesquisas do mundo; apesar disso, um dos grandes problemas é fazer a conexão do mundo da academia com as parcerias privadas. O Vale do Genoma chegou para fazer esta ponte de uma maneira rápida e prática. Durante as primeiras semanas de julho, tenho participado como avaliador convidado da Vitrine Tecnológica, onde pesquisadores apresentam, no formato de um pitch, os avanços e maturidade tecnológica em um espectro muito rico de novas possibilidades: do campo no mapa genético da soja à saúde humana em tratamentos do câncer.
Serão 223 pesquisadores aplicando pesquisa diretamente onde o desafio se encontra. Seja no desenvolvimento de um remédio que contribua para o alcance de uma melhor qualidade de vida, no controle de uma praga que surgiu e é específica em alguma plantação, para alterar geneticamente alimentos e torná-los ainda mais nutritivos, ou auxiliar em novos tipos de rações para aprimorar a qualidade de produtos de origem animal. São muitos os exemplos e, da mesma forma que é necessária a atuação dos pesquisadores, os empreendedores brasileiros são peças fundamentais para transformar o conhecimento em produto e aplicá-lo ao mercado. O futuro do ecossistema brasileiro de inovação passa pelo Vale do Genoma.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já criou a atmosfera necessária que alinha os interesses científicos com as empresas privadas: há um incentivo enorme para o lado das agtechs; o Vale do Genoma é mais um chamado para animar e capacitar o sonho de empreender alinhado aos melhores players do mercado brasileiro. É necessário reforçar isso nas universidades – e suas incubadoras –, outro ambiente com possibilidade de empreender, e continuar essa discussão na sociedade civil, que, por vezes, sofre com algum problema na prática, mas não sabe o caminho para buscar a solução. Por fim, claro, o Estado deve ser um dos caminhos para reunir todos esses interesses em projetos e colocá-los para evolução, ainda mais num país como o Brasil, que tem em seu gargalo a ciência e a tecnologia.
Para além dos novos empreendedores, deve-se dizer que as empresas Jacto e Repinho são as primeiras a investir capital e desenvolver projetos no Vale. As empresas brasileiras já consolidadas devem também apostar neste projeto robusto. É o futuro e é agora. Todos esses setores que mencionei são perenes e estão em constante processo de transformação; a sagacidade de estar presente nas tendências antes de acontecerem só ocorre quando a transformação é pauta das corporações.
Viva a bioinovação brasileira! Vida longa ao Vale do Genoma, e que iniciativas grandiosas como essa sejam apenas uma semente para tantas outras que este grande país é capaz de realizar.
Paulo Humaitá, economista com especialização em Estratégia e mestre em Desenvolvimento de Novos Negócios, é fundador e CEO da Bluefields.