Não é de hoje que me pergunto quanto vale a vida do brasileiro para nossos governantes. Questiono-me ainda mais quando me deparo com a notícia de que o número de acidentes continua crescendo nas rodovias federais. Segundo um levantamento anual de acidentes, feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em 2011 as BRs tiveram 3,3% mais acidentes que no ano anterior. O aumento foi ainda maior entre 2008 e o ano passado, de 34%.
Os números que constam no levantamento mostram que os 68,9 mil quilômetros de rodovias atendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) registraram 188,9 mil acidentes, que deixaram 104,4 mil pessoas machucadas e 8,5 mil mortos um número semelhante ao saldo de mortes decorrentes dos atuais conflitos na Síria.
Este dado choca quando nos deparamos com o fato de que, além das imprudências dos motoristas, muitos desses acidentes são causados por falta de infraestrutura viária. Isso porque o Dnit também fez um diagnóstico dos trechos mais perigosos para os motoristas e, no Paraná, foi apontado como o trecho mais perigoso o quilômetro 12 da BR-469, em Foz do Iguaçu. Já para a PRF, que usa uma metodologia diferente, os trechos mais preocupantes estão na BR-277, nas proximidades de Foz e no entorno de Paranaguá, no Litoral.
Falando sobre a rodovia BR-277, nas proximidades de Foz do Iguaçu, a não duplicação da pista pode ser um dos agravantes para a quantidade de acidentes que ocorrem no local. Aliás, é bom lembrar que a duplicação dessa rodovia está no papel há cerca de dez anos. Enquanto isso não ocorre, a estrada, diga-se de passagem pedagiada, continua sendo uma das mais movimentadas do Paraná (pois recebe pelo menos 76% do fluxo de turistas que passa por Foz do Iguaçu, além de caminhões do Paraguai e da Argentina) e sendo uma das que possuem mais acidentes do estado.
Enquanto isso, o governo do Paraná informa que negocia com as empresas do Anel de Integração a possibilidade de prorrogar os contratos de concessão mediante contrapartidas, como a duplicação de toda a BR-277. É um absurdo. Estamos aguardando um posicionamento há muito tempo. Não queremos prorrogação de contrato algum.
É bom lembrarmos que uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) mostrou que as tarifas de pedágio na BR-277, no trecho entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, deveriam ser 22,3% mais baratas. Além disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) indicou que as mudanças sucessivas nos contratos de concessão do chamado Anel de Integração do Paraná lesaram os usuários das rodovias pedagiadas. O TCU destacou que hoje os usuários estariam arcando com tarifas muito superiores das que pagariam se o contrato não tivesse sido alterado ao longo dos 14 anos de concessão.
Para o TCE, o histórico das concessões de rodovias no Paraná é uma sucessão de equívocos e o contrato em vigor se mostrou um instrumento ruim. Então, diante deste cenário, como ainda é possível que o governo do Paraná continue insistindo em uma possível negociação, uma vez que dados de diferentes órgãos apontam a falta de respeito com os paranaenses?
Enquanto os dados são divulgados e nada é feito, continuamos a pagar, muitas vezes com a própria vida, o descaso com as rodovias.
Gilberto Antonio Cantú é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar).