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Opinião do dia 1

O velho Estado Novo

O golpe de 10 de novembro de 1937 foi orquestrado a partir de uma patranha. O "Plano Cohen", inventado pelos militares integralistas em conluio com o alto comando do Exército, foi o pretexto patriótico para a aliança com o nazi-fascismo mundial. Serviu principalmente ao projeto continuísta de Getúlio Vargas a quem não interessava a disputa eleitoral do ano seguinte.

Com a imprensa amordaçada pelo Estado de Guerra promulgado em seguida ao anúncio da suposta conspiração, criavam-se as condições para que nos 70 anos seguintes, com honrosos intervalos e sob diferentes disfarces, se instalasse no país uma grande usina de mentiras e manipulações.

É preciso registrar que depois da intentona de 1935, com a prisão, exílio e expurgo dos jornalistas liberais, socialistas e comunistas, jornais e rádios não discordavam muito das doutrinas integralistas, racistas e autoritárias então em voga. Prova disso foi o discurso de Plínio Salgado retransmitido pela rádio Mayrink Veiga em 4 de agosto denunciando a conspiração comunista. Dois meses antes do embuste do "Plano Cohen", o líder fascista era acolhido por uma das rádios de maior audiência na Capital Federal para criar o clima necessário à aceitação do golpe que, imaginava, viria a beneficiá-lo pessoalmente.

O patronato jornalístico contentava-se com a aparência de liberdade e independência, acompanhava o habilidoso vai-e-vem da política externa do caudilho instalado no Palácio do Catete e até o endossava. O único jornal verdadeiramente de oposição foi o "Estado de S. Paulo" que, por isso, pagou um alto preço. O sucesso do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) não foi casual, havia clima para a acomodação dos interesses do governo com os da imprensa.

Essa acomodação persiste, apesar dos arrufos do ano passado. A empatia da grande mídia com a CBF, verdadeira anfitriã da Copa do Mundo em 2014, é uma evidência. Foi, na melhor das hipóteses, um factóide, o espetaculoso anúncio na última quinta-feira da "descoberta" de um lençol petrolífero na bacia de Santos destinado a colocar o país no time dos grandes exportadores de petróleo. O fabuloso reservatório da Área Tupi já fora formalmente anunciado há mais de um ano, em julho de 2006, no meio da campanha eleitoral quando começaram a melhorar as chances de reeleição do presidente Lula.

Agora, diante de um quadro preocupante em matéria de energia, quando o governo prepara-se para esquecer as humilhações sofridas nas mãos dos bolivianos e anuncia a intenção de investir pesadamente no país vizinho, a portentosa voz da ministra Dilma Roussef (candidata a candidata de um grupo palaciano para 2010), foi escolhida para proclamar a descoberta.

É uma platitude afirmar que tiranias adoram mentiras. O engodo convém a todos, autoritários ou democratas, porém alguns o recusam por ser demasiadamente oneroso dentro da relação custo-benefício. A transparência (ou a opção não-enganosa), além de menos arriscada, exige menos investimento e evita desgastes desnecessários.

Embora a área técnica da Petrobrás tenha optado pela prudência e não tenha acompanhado o entusiasmo oficial, não deixa de ser preocupante que numa solenidade à qual compareceram o presidente da República e sete ministros de Estado, tenha sido omitido um dado tão importante: não houve "descoberta" de um novo manancial de petróleo leve e gás, houve apenas a confirmação dos resultados de descobertas anteriores. As pesquisas foram iniciadas em 2005, anunciadas com estardalhaço em 2006 e, agora, melhor definidas. Essas insignificâncias não foram mencionadas. O trator da desinformação trabalha melhor em terrenos que não exigem detalhes.

Um informe claro, veraz, ainda que com os mesmos trombones e batucadas, traria as mesmas vantagens políticas e produziria a mesma repercussão num mercado mundial assustado com o fantasma do petróleo a 100 dólares o barril. O truque propagandístico ou marqueteiro da quinta-feira funcionou durante algumas horas, foi desmascarado pelo "Globo" na edição desta sexta-feira, exigirá muitas explicações, e deixou um lastro de desconfiança com relação às próximas proclamações.

Mesmo com eleições à vista, está na hora de enterrar o Estado Novo e sua herança de lorotas – elas cansam.

Alberto Dines é jornalista.

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