| Foto: Marcos Tavares/Thapcom
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Pode ser perigoso e difícil desafiar o Zeitgeist – espírito do tempo – promovendo ideias e ações verdadeiramente justas e atemporais, como o tratamento equânime a todos os indivíduos e o julgamento dos desvios praticados pelos autores, não pelos demais.

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Não por acaso, muitos dos homens que consideramos grandes na história foram aqueles que confrontaram esse espírito, realizando feitos notáveis que trouxeram progresso inequívoco, como: descobrir a América; libertar os escravos, quando achavam ser fundamento da economia; contrapor ao nazifascismo em um momento que parecia impossível deter o avanço do coletivismo nacionalista na Europa.

Entretanto, de tempos em tempos, nos desviamos dos valores universais e atemporais da liberdade e justiça baseada nas ações dos indivíduos, em prol de uma catarse coletiva mal-ajambrada em nome daqueles vistos por alguns – correta ou incorretamente – como as vítimas de processo de abuso.

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Parece ser o caso do momento atual...

O inaceitável tratamento policial a George Floyd, que sucumbiu após sua detenção por suspeição de crime, desencadeou sequencia de eventos avessos à justiça e desproporcionais ao fato. Ao invés de se voltar aos culpados diretos e indiretos – os policiais e os sucessivos governos democratas que vêm governando o estado e a cidade do incidente – e, de certo, os métodos de abordagem policial ora estabelecidos, inflamou-se uma marcha de insanidade que escapa às raias do admissível.

Sob pretexto de se opor ao fascismo, ao racismo e à opressão, aquela que é provavelmente a mais individualista, livre e próspera sociedade da aventura humana, testemunhou uma ira contra suas figuras históricas. Autoras de feitos responsáveis, em maior ou menor grau, justamente por esta valiosa tríade atemporal de resultados que a aproxima da grandeza: a liberdade, a prosperidade e o tratamento do indivíduo como responsável por seus atos, algo que claramente se contrapõe ao fascismo, ao socialismo, alcançando, assim, um alto ideal de justiça.

A raiva descontrolada chegou a impropérios como a incitação à derrubada, em Boston, da imagem de um dos maiores responsáveis pelo fim da escravidão no país – Abraham Lincoln – pois a alegoria do monumento concedia ao escravo o direito de se levantar da posição de subjugado àquela de homem livre. Não foi visto o movimento, mas sim o fato de o mesmo ainda estar de joelhos. O mesmo clamor se voltou à retirada da estátua do navegador que aportou na América, alterando para sempre a história humana. Descoberta que disparou o intricado processo de interações sociais que trouxe o nascimento não somente da referida sociedade mais livre e próspera, como também da grande maioria dos indivíduos que hoje se rebelam.

Não bastando a injúria causada à história e aos valores atemporais, a fúria atravessou o Atlântico, chegou ao desatino de propor a derrubada do mais antifascista dos homens:  o mesmo Winston Churchill, líder da nação inglesa, que então foi a única resistência real ao então descontrolado avanço do pesadelo nazifascista no Velho Continente.

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Grandes homens que desafiaram o espírito do seu tempo e promoveram conquistas estão sendo mal avaliados pelo atual Zeitgeist, que foge por completo da sensatez e da razão. São alvos daqueles que desejam apagar a história e as grandes conquistas, talvez para galgar degraus no antigo desejo frankfurtiano de destruir tudo o que carrega valor legítimo para ver o que entra em seu lugar, quiçá torcendo para que não o caos.

É atroz o espírito do tempo que vira as costas contra aqueles que até aqui nos trouxeram, flanando pela ingratidão e pela ignorância de desconhecer os caminhos que levaram a um estado melhor. Zeitgeist este que precisamos debelar.

Christian Vonbun é economista e professor do Instituto Mises Brasil.