A postura do papa Francisco diante do capitalismo que gera uma “globalização de indiferença”, como ele o define na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, gerando a exclusão de milhões de pessoas pobres com a “idolatria do dinheiro”, nos desafia, como uma sociedade internacional, a encontrar meios para criar um mundo cada vez mais igualitário e fraterno. O papa denuncia, tanto na sua exortação apostólica como na sua carta encíclica Laudato Si’, um sistema fundamentado na especulação que dá direito ao consumismo desenfreado à minoria, enquanto o resto vive em função desse modelo que gera a sua ruína.
O papa condena, sim, o capitalismo na sua forma atual, com os seus excessos criminosos que criaram um mundo dominado por poucos interesses à custa da nossa vida nesta “terra mãe”. Um sistema dominado por empresas que, em nome da liberdade econômica, promovem meios que destroem a possibilidade criativa de gerar a diversificação, que por sua vez protege e nutre a vida de todos. Um sistema, de acordo com o papa, não deve servir unicamente o consumismo cultural de poucos, que detêm o poder aquisitivo. Uma realidade que criou a desigualdade econômica em que vivemos como uma comunidade mundial onde quatro quintos da população mundial vivem em função de um quinto que possui as condições de viver com o conforto desnecessário: a cultura do “descartável”. A vivência dessa minoria individualista e egoísta é o enfoque do seu ataque ao capitalismo.
Os primeiros que devem assumir uma atitude nova e radical são os católicos
A postura papal diante do sistema econômico vigente é, essencialmente, a postura teológica da igreja a partir do Evangelho. Cristo pregou a partilha e não o acúmulo de riquezas nem de bens. A ética da Igreja parte do princípio fraterno que exige, por natureza, a partilha. Por isso o papa promove um sistema econômico que coloca a pessoa em primeiro lugar: o sistema que valoriza a pessoa a partir de bens que “criam um valor real” na vida delas. Assim, empresários que agem dessa forma são elogiados.
Foi nesse sentido que o papa critica empreendimentos comerciais promovidos por congregações religiosas, ordens e dioceses da Igreja, referindo-se à situação europeia em que a Igreja, mesmo agindo comercialmente, é isenta de impostos. Como disse no seu discurso de 13 de setembro para os religiosos, eles devem em particular “combater a tentação do deus do dinheiro”. Continuou dizendo que religiosos – e, por extensão, dioceses – transformam conventos ou seminários vazios em fonte de dinheiro sem pagar os devidos impostos, escondendo-se atrás do privilégio da isenção. O papa disse, enfaticamente: “paguem seus impostos como todos!”
Quando o papa condena os excessos do sistema que condena milhões de pessoas à miséria, ele está falando para todos. Por isso, os primeiros que devem assumir uma atitude nova e radical são os católicos, principalmente os religiosos e o clero. Os bens da Igreja deveriam estar a serviço dos outros e não da perpetuidade da Igreja ou da congregação religiosa. Como na Europa, nós também devemos colocar os bens a serviço da comunidade acolhendo os que necessitam. Infelizmente, essa não foi a postura da Igreja como um todo no Brasil, diante das migrações internas, nem diante do drama dos haitianos, bolivianos e tantos outros em busca de uma vida nova.
Sim, o papa condena uma postura capitalista que nega a partilha e relega as pessoas à miséria, como também condena os privilégios de poucos.
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