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O dilema dos pais: equilibrar afeto e limites

Nós, pais, vivemos atualmente alguns dilemas angustiantes: oferecemos aos nossos filhos um caminho por demais florido, plano e pavimentado, mas temos certeza de que mais tarde irão percorrer trilhas e escarpas pedregosas; protegemos nossas crianças e adolescentes das pequenas frustrações, mas bem sabemos que a vida, mais tarde, fatalmente se encarregará das grandes; tudo fazemos para não privar nossos filhos de conforto, bens materiais, shoppings, lazer etc., mas, agindo dessa maneira, não estamos criando uma geração por demais hedonista e alheia aos problemas sociais?

Para esses paradoxos, não há manual de instruções. Mas, se houvesse, duas palavras comporiam o título deste manual: afeto e limites. São pratos distintos de uma balança em que há de prevalecer o equilíbrio, a medida certa e o bom senso. Mais do que no passado, o jovem de hoje, ao percorrer o seu caminho, encontra muitas bifurcações, tendo, com frequência, de decidir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.

Em cada etapa da vida, é bom que o nosso educando cometa pequenos erros e seja responsabilizado por eles. Além disso, é preciso que tenha clareza das nefastas consequências dos grandes ou irreversíveis erros, para que possa evitá-los. Por exemplo: gravidez indesejada e DST; exposição excessiva ao risco; envolvimento com drogas, álcool, tabaco, brigas violentas, furtos etc.

Nós, pais, educamos pouco pelos cromossomos e muito pelo “como-somos”

O doutor Dráuzio Varella, com a autoridade de quem conviveu com as mais profundas metamorfoses do ser humano como médico no presídio do Carandiru, cita os dois principais fatores que levam o indivíduo aos descaminhos da marginalidade: negligência afetiva e ausência de limites. A nossa relação com o educando – seja filho ou aluno – não pode ser tíbia, leniente, permissiva, mas sim intensa e proativa, sobretudo na imposição de disciplina, respeito às normas e à hierarquia. Até porque quem bem ama impõe privações e limites. E sem disciplina não há aprendizagem na escola – e muito menos para a vida.

“A estrutura básica do ser humano não é a razão, e sim o afeto”, ensina apropriadamente Leonardo Boff, autor de 72 livros e renomado intelectual brasileiro. Realmente, quanto mais tecnológico se torna o mundo hodierno, maiores são as demandas por valores humanos e afetivos.

Recente pesquisa patrocinada pelo Unicef mostra que, para 93% dos jovens brasileiros, a família e a escola são as instituições mais importantes da sociedade. Crianças e adolescentes que têm, em casa e no colégio, limites e modelos de afeto raramente se envolvem com drogas ou violência, pois se nutrem de relacionamentos estáveis e sadios.

Num crescendo, a criança e o adolescente devem adquirir o direito de fazer escolhas, aprendendo a autoadministrar-se. “Sem liberdade, o ser humano não se educa. Sem autoridade, não se educa para a liberdade”, pondera o educador suíço Jean Piaget. Autoridade e liberdade, exercidas com equilíbrio, são manifestações de afeto, ensejam segurança e proteção para a vida adulta. “Autoridade é fundamental, a superproteção e a permissividade impedem que os jovens amadureçam”, completa a professora da UFRJ Tânia Zagury.

Devemos dar aos nossos filhos raízes e asas: valores e liberdade. E nós, pais, educamos pouco pelos cromossomos e muito pelo “como-somos” (os exemplos que damos). Sai sempre ganhando quem sabe amar, dialogar, tolerar, e também quem sabe ser firme e coerente em suas atitudes.

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