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Artigo

Olhos no Chile

 | Nelson Almeida/AFP
(Foto: Nelson Almeida/AFP)

Até a semana passada, o título remeteria a futebol. Mas é sobre eleição mesmo. No dia 19 de novembro, o Chile, país mais bem sucedido da América do Sul, escolherá seu “novo” presidente. O favorito é o bilionário Sebastian Piñera, que deverá receber a faixa da socialista Michelle Bachelet, que a recebeu do mesmo Piñera, que a herdou da própria Bachelet.

Devido à vedação de reeleição no Chile, é comum (e salutar) este tipo de revezamento, fenômeno que acontece pela mesma razão também no Uruguai. Salutar principalmente porque evita problemas como o uso do mandato para se reeleger e não deixa tempo para que maluquices ideológicas sejam levadas a cabo. Os mandatos não se pautam em planos de mudanças culturais de longo prazo. A administração é apenas administração. Claro que os traços ideológicos são evidentes e até mesmo justos.

Bachelet iniciou variados projetos alinhados à esquerda, como, por exemplo, educação pública gratuita. Não deu tempo e tudo permaneceu como estava. Hoje, no Chile, toda educação superior é paga, até mesmo a pública. Quem não pode pagar dispõe de financiamento estudantil ou bolsa de estudos. Mas quem pode pagar paga. As universidades se tornaram sustentáveis (e rentáveis). Hoje, o Chile ostenta, com folga, o troféu de melhor educação da América Latina. Este modelo segue a linha liberal de Piñera, implementada pelo seu próprio irmão e ex-ministro José Piñera, um dos “Chicago Boys”, como ficou conhecida a turma de jovens economistas formados nos EUA que colocaram em prática a maior experiência liberal econômica já vista em um país.

Parece que o Chile optará pela saída do establishment

Voltando à eleição de novembro, é interessante observar o vaivém chileno. Bachelet, que havia vencido o próprio Piñera (ele de novo) em 2005 e sido eleita para o segundo mandato em 2013 com 62% dos votos, hoje tem mais de 50% de desaprovação e provavelmente não verá a presidência ser ocupada por nenhum dos seis candidatos de esquerda. Piñera, que acabou seu mandato em 2014 com baixa popularidade e sob forte desconfiança de ter lucrado com valorização de suas empresas após sua eleição, é o favorito.

Quando estive em janeiro no Chile, tudo o que se falava era sobre o tal Alejandro Guillier, um político até então desconhecido, jornalista aguerrido, sem partido, o famoso “nem de direita, nem de esquerda”, que vestiu a roupagem de independente, um outsider. Esta era a ameaça a Piñera. Chegou a ser apontado por consultorias como virtual vencedor. Aparentemente não vingou. Ainda está em segundo lugar, mas 24 pontos atrás do ex-presidente (45% a 21%).

Correm por fora, ainda, a jornalista “antibipartidarista” Beatriz Sanchez, com 12%, após despencar 14 pontos desde julho; e José António Kast, com 5%. Kast concorre como independente, mas é ex-membro da UDI, partido que se encontra mais à direita no espectro político, sendo o mais conservador nos costumes e mais liberal na economia. Ainda estão na disputa o cineasta socialista Marco Enriquez-Ominami e a democrata cristã de ascendência croata Carolina Goic. Piñera vence todos em eventual segundo turno.

Ou seja... eleição. Parece que o Chile optará pela saída do establishment. Estável há algumas décadas, preferem que assim se mantenha. Não obstante, a imprevisibilidade dá o tom da conversa por lá. De um ano pra cá, Guiller apareceu, cresceu e quase sumiu.

Se o Chile está assim, como será no Brasil? Instável desde o fim do Império e o início da República, optaremos pela paradoxal “instabilidade do establishment”? Ou embarcaremos no também contraditório aventureiro salvador?

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