O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) pode causar complicações sérias em crianças e idosos. Altamente contagioso e subdiagnosticado, pode ainda ser mais letal em pessoas mais velhas do que em bebês e crianças. A infecção pelo vírus pode agravar doenças de base como diabetes, insuficiência cardíaca, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e asma.
Segundo o CDC, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, por ano são hospitalizados entre 60 e 160 mil adultos, e de 6 a 10 mil vão à óbito por causa da infecção por esse vírus. Trata-se, portando, de considerável problema de saúde pública. No Brasil, entre 2020 e 2022, foram notificados mais de 30 mil casos e a taxa de letalidade em adultos, com mais de 60 anos, foi de 20,77%. A circulação do vírus coincide em parte com a temporada da gripe.
A gestão do Ministério da Saúde repetirá no caso da vacina contra o VSR os mesmos erros cometidos com a vacina contra a dengue?
Desde dezembro de 2023, a Anvisa aprovou a primeira vacina contra VSR em adultos, ou seja, há cerca de 4 meses. Em 28 de fevereiro de 2024, foi definido o preço da vacina Arexvy, produzida pela farmacêutica Glaxo Smith Kline, em R$ 932/dose, pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), sendo permitida sua aplicação e venda em clínicas privadas. Mas, até onde se sabe, o tema ainda não foi tratado com a prioridade devida pela gestão do Ministério da Saúde.
Durante a pandemia de Covid-19, houve uma corrida desenfreada pelo desenvolvimento e aprovação de vacinas contra o novo coronavírus, e em curto espaço de tempo foram disponibilizadas vacinas produzidas com tecnologias antigas (vírus inativado) e inovadoras (mRNA). Os avanços nas pesquisas e a maior expertise na produção de vacinas aceleraram a oferta de vacinas que eram esperadas há alguns anos. Também houve avanços nos processo regulatórios que culminaram com maior agilidade na aprovação de vacinas e outros medicamentos pelas agencias regulatórias.
Em nossa gestão no Ministério da Saúde, incorporamos em tempo recorde as vacinas contra a Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS). As vacinas contra Covid-19, inicialmente aprovadas em caráter emergencial, logo que obtiveram o registro definitivo na Anvisa, foram incorporadas no SUS (Portaria GM/MS 1,446 de 29 de junho de 2021), após recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) em decorrência de demanda interna. No dia 1º de abril, foi publicado no Diário Oficial da União, a aprovação pela Anvisa de uma segunda vacina que protege bebês contra o VSR, a dose deve ser aplicada nas gestantes para conferir proteção contra o vírus durante os seis primeiros meses de vida do filho.
Todos os anos, com o final do verão, os casos de síndromes gripais aumentam exponencialmente e, como sabemos, podem ser fatais, principalmente nos idosos com comorbidades. Já temos vacinas contra a Influenza e Covid-19 disponibilizadas no SUS, mas ainda não temos cobertura contra o VSR.
Vale dizer ainda que, junto a gripe e a Covid-19, o VSR é o principal causador de síndromes respiratórias agudas graves no Brasil, que demandam hospitalização. Entre os menores de dois anos de idade, porém, são mais casos graves da bronquiolite infantil do que de Covid-19.
A gestão do Ministério da Saúde repetirá no caso da vacina contra o VSR os mesmos erros cometidos com a vacina contra a dengue? Quando houve sabida negligência na incorporação no SUS da vacina TAK-003 – Qdenga, disponibilizada aos brasileiros com retardo de quase um ano após a aprovação pela Anvisa. Não adianta depois atribuir a sua negligência a terceiros, e alegar que a responsabilidade pela baixa adesão à vacinação é dos chamados movimentos “antivacina”, como tem sido a prática da atual gestão do Ministério da Saúde.
Até quando vamos esperar para ter a vacina contra o VSR no SUS? Hoje só os idosos que dispõe de recursos financeiros podem ter acesso a essa vacina.
Marcelo Queiroga é médico cardiologista e ex-ministro da Saúde.