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Enquanto você lê este artigo, a América faz a maior mudança política desde o dia em que Ronald Reagan substituiu Jimmy Carter como morador da Avenida Pensilvânia, 1600, há 36 anos. Você está testemunhando história.

A posse de Donald Trump no cargo mais poderoso do planeta não é inédita apenas por ele ser o mais velho a assumir ou o primeiro que não veio da política ou das forças armadas. Trump representa o momento em que a ordem mundial estabelecida após a queda do Muro de Berlim está, pela primeira vez, em xeque.

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Os americanos deram ao Partido Republicano sua maior vitória desde 1928, uma rejeição inegável ao “popular” Barack Obama. Após expiar as culpas do passado, o eleitor preferiu desta vez analisar racionalmente o governo e seu legado, o que inclui a explosão do déficit público e a piora de todos os índices sociais relevantes, sem contar os escândalos que só aparecem nos rodapés das páginas de jornal, mas que ele acompanha de perto nas redes sociais e nos poucos veículos independentes. Foi também um “não” à candidata com acusações de fazer o PT parecer um colégio de freiras.

A resposta do eleitor às ofensas e calúnias dos “globalistas” chegou com o Brexit e com Trump

Com o fim da Guerra Fria e da União Soviética, emergiu uma nova ordem política “globalista” (favor não confundir com “globalização”) em que o mundo se tornaria gradativamente um único Estado sem fronteiras, com as nações perdendo sua autonomia e suas identidades nacionais. Acordos supranacionais eram assinados a todo momento, criando profundas transformações para as populações locais que eram raramente envolvidas nas decisões.

Aos poucos, o Estado-nação soberano e independente foi sendo visto como um anacronismo a ser removido. Qualquer um que se opusesse à perda da soberania do seu país passou a ser demonizado publicamente como “radical”, “xenófobo”, de “extrema-direita” e “protecionista”. A resposta do eleitor às ofensas e calúnias dos “globalistas” chegou com o Brexit e com Trump. E não deve parar com eles.

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O bilionário de cabelo laranja não deve ser classificado apressadamente nas categorias usuais de “direita” e “esquerda”. As regras do jogo mudaram, mas muitos ainda tentam entender o novo campeonato usando as velhas cartilhas. Trump foi “conservador” ou “liberal clássico” quando clamou por menos impostos e regulações para liberar a economia das amarras do intervencionismo estatizante do antecessor. Trump foi “esquerdista” quando prometeu US$ 1 trilhão em investimentos públicos em infraestrutura, um pacotaço de fazer John Maynard Keynes e Franklin Roosevelt levantarem do túmulo para aplaudir. Trump foi ambíguo quando falou em melhorar os acordos comerciais do país, o que fez com que os apressados já saíssem classificando suas declarações como “protecionistas”.

O pouco que se pode afirmar neste momento é que Trump, lembrando João Dória em São Paulo, não deixou suas empresas e veio para a política a passeio. Suas escolhas para o ministério mostram uma capacidade admirável de perdoar antigos opositores. Apenas o anúncio do general James Mattis para a Defesa já deixou o mundo um pouco mais seguro. Quem acha que o governo Trump vai dever favores à Rússia não faz ideia de quem ele é.

Se Trump fizer as obras públicas que promete e mantiver as grandes empresas no país, além de oferecer uma boa alternativa ao Obamacare, terá um cacife eleitoral quase imbatível em 2020, mesmo com a imprensa já embarcando alegremente na campanha de Michelle Obama. Se baixar impostos e tirar regulações, poderá turbinar a economia e entregar a promessa de fazer a América “grande novamente”. O tempo dirá.

Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.