Cabe analisar os dois partidos, PSDB e PT, que dominaram a cena político-administrativa do país nos últimos 12 anos. Baseado no apoio empresarial, principalmente em São Paulo, e na assessoria de colaboradores do governo FHC, é de se supor que Geraldo Alckmin, se eleito, retorne às diretrizes econômicas empreendidas por Fernando Henrique Cardoso e até as aprofunde no campo da privatização e das reformas trabalhistas (flexibilização), previdenciárias (diminuir o déficit), tributárias (baixar impostos, taxas e contribuições) e do aprimoramento da gestão, reduzindo gastos e aumentando a eficiência.
Talvez Alckmin consiga realizar o projeto do Banco Mundial de privatizar totalmente o sistema financeiro federal, representado pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste. Compatível com a proposta desenvolvimentista e de redução do tamanho do Estado, reiterada pelo candidato, o BNDES voltará a ser banco da privatização como no governo FHC para coordenar a venda futura de Furnas, Chesf, Eletronorte e outras do conglomerado Eletrobrás, e quem sabe privatizar as refinarias da Petrobrás e a própria empresa, completando a obra de FHC que vendeu na Bolsa de Nova Iorque 31,72% do capital da estatal, sem benefício para a petrolífera pois a receita foi para os cofres do Tesouro.
Alckmin poderá eliminar os juros subsidiados que no enfoque de Henrique Meirelles, eleito deputado federal do PSDB de Goiás, que não assumiu o mandato para ser presidente do Banco Central do governo Lula, prejudicam a queda mais acelerada da taxa de juros Selic fixadas pelo Copom. Para isso, teria que retirar do BNDES os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), extinguindo a taxa de juros de longo prazo (TJLP), atualmente de 8% ao ano. As reservas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) não mais seriam operadas com exclusividade pela Caixa Econômica Federal, repassando-as à rede privada para os empréstimos habitacionais.
Alckmim com certeza modificará a direção da política externa, estabelecendo vínculos fortes com as nações mais desenvolvidas e reiniciando as negociações da Alca com os Estados Unidos.
Um governo do PSDB coibiria as invasões do MST e poderia até criminalizar os movimentos sociais. Alckmim tornaria realidade o compromisso de Mário Covas, quando disputou a Presidência da República, de realizar um "choque de capitalismo" no Brasil.
Há hipótese remota de reviravolta no quadro sucessório. Com a desincompatibilização de José Serra para concorrer ao governo de São Paulo, se Alckmin não crescer nas pesquisas, Serra poderá ser convocado pelo PSDB na convenção de junho. Se PSDB e PFL conseguirem fulminar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viabilizar-se-á a candidatura de Ciro Gomes pelo Partido Socialista Brasileiro com possível apoio das forças lideradas por Lula.
Se Lula for homologado candidato do PT na futura convenção, não lhe será fácil sair da defensiva com a saraivada de acusações de improbidade ao seu governo.
Os fundamentos econômicos do país, que suplantam nitidamente a herança deixada pelo antecessor, dificilmente lhe darão os votos da classe média e alta, nas quais os preconceitos contra o operário sem curso superior e retirante do Nordeste ficaram mais vigorosos, potencializados pelas denúncias de corrupção.
É verdade que a classe média está exultante com os preços baixos das viagens a Miami e outros destinos no exterior e com os preços acessíveis dos produtos importados, e poderá canalizar a Lula parte de seus votos.
Firme mesmo é a solidariedade a ele das classes mais humildes favorecidas pela inflação baixa, ajudada pelo real sobrevalorizado, salário mínimo acrescido e 15 milhões de bolsas-família.
Lula certamente tentará captar o sentimento nacionalista e antiliberal predominante na América Latina. A política exterior conta pontos a seu favor, como igualmente o fato de restabelecer o BNDES como banco de desenvolvimento, de manter estatal o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e as subsidiárias da Eletrobrás e ter fortalecido a Petrobrás. Ele soube conviver com os movimentos sociais, sem avanços mas também sem perseguições.
Dentro da imprevisibilidade do resultado de uma eleição presidencial, Lula ou Alckmin chegarão à vitória se convencerem o eleitorado de que o país crescerá economicamente, haverá mais emprego e menos pobreza e serão eliminados os desvios de dinheiro.
A campanha será uma verdadeira batalha campal, com incriminações de desonestidade e incompetência no mandato Lula e nos do antecessor, e troca de insultos por haverem, um e outro, segurado o crescimento do país em 2,3% nos oito anos de FHC e pouco acima disso nos quatro de Lula.
A futura disputa pelo mais alto cargo da nação poderá abrir espaço para outros candidatos, que souberem interpretar o âmago das massas e a onda nacionalista em expansão pela América Latina.
Não é impossível que o povo chegue à conclusão de que o PSDB e PT são bananeiras que já deram cacho, e decida-se pela renovação. Quem se habilita: PMDB, PPS, Psol ou Partido Democrático Trabalhista?
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