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 | Carol M. Highsmith Archive/Lyda Hill Texas Collection of Photographs/Library of Congress
| Foto: Carol M. Highsmith Archive/Lyda Hill Texas Collection of Photographs/Library of Congress

Quando decidi morar nos Estados Unidos, uma das coisas que tinha em mente era ampliar minha pauta de artigos com a experiência local, comparando-a com nossa realidade brasileira. O resultado está numa parte do livro Brasileiro é otário? – o alto custo da nossa malandragem, lançado em 2016. Infelizmente, não deu tempo de incluir mais coisas, pois à medida que o tempo passa, temos um contato maior com o cotidiano dos americanos para contrastar com o dia a dia em nosso país.

Nesta semana, por exemplo, troquei de carro pela primeira vez. E que choque essa experiência me deu! O brasileiro, mesmo o que já veio visitar os Estados Unidos como turista, não pode ter muita ideia de quão simples é essa atividade de comprar e vender carros novos ou usados aqui. Tudo se resolve no mesmo dia, em poucas horas! É quase inacreditável quando lembramos no transtorno, da burocracia, da desconfiança generalizada que impera no Brasil.

Após uma rápida avaliação superficial do valor do carro pela internet, fui a uma espécie de supermercado de carros aqui perto. Lá chegando, disse que queria vender, e não comprar. O rapaz da loja pegou alguns dados em coisa de dois minutos, e pediu 45 minutos para um técnico fazer um breve levantamento das condições do veículo. Em meia hora tinha o resultado, e me apresentou o valor que pagariam pelo carro.

O Brasil é uma república sindical e cartorial, um manicômio tributário e burocrático

Era um valor bem justo, acima da avaliação inicial que fiz num site. Eles ganham no giro, na quantidade, com margem reduzida, e por isso pagam bem. Aceitei a oferta, e o processo todo não levou uma hora. Saí de lá com um cheque após simplesmente assinar os papéis. Não houve necessidade de cartório para reconhecer firma. E também levei a placa do carro comigo, com o selo à guisa do IPVA, que aqui custa menos de R$ 200 por ano.

Depois foi só seguir para a outra loja, que tinha o carro em que estava interessado. Após alguma negociação, fechei o negócio, e novamente o processo não levou mais que uma hora. Fui ao banco rapidamente só para pegar um cheque administrativo, e pronto: saí de lá com o meu carro novo, emplacado, com aquele selo que vale até 2018. Tudo feito em pouco mais de duas horas!

Quando contei ao vendedor o que era um despachante, ele precisou de algum tempo para compreender sua função. Quando falei da necessidade de reconhecimento de firma, ele não acreditou. Nos Estados Unidos as coisas funcionam, tudo é muito prático, feito para facilitar a vida do cidadão. É uma sociedade de confiança, não uma na qual a cultura é a do jeitinho, da malandragem, com cada “esperto” tentando passar a perna nos “otários”.

É verdade que mesmo aqui as coisas pioraram, principalmente com o Partido Democrata e sua visão esquerdista de mundo. A esquerda adora criar mais burocracia, dificuldades legais, para vender depois facilidades ilegais, para concentrar poder arbitrário nas mãos de sindicatos, de burocratas, de políticos. Mas ainda há um abismo nos separando da América, o que pode ser comprovado pelo índice Doing Business do Banco Mundial, que mede o ambiente de negócios dos países. Os EUA são o oitavo, e nós estamos na 123.ª posição.

O Brasil é uma república sindical e cartorial, um manicômio tributário e burocrático. O relato de um empresário da indústria química feito no fim de 2016 repercutiu bem nas redes sociais. Ele mostrava algumas regras absurdas que precisava cumprir para permanecer na legalidade, e como se tornava refém dos fiscais. O resultado é praticamente inviabilizar sua operação de logística. Muitos precisam subornar os fiscais para sobreviver. Ou isso, ou fechar as portas e demitir todo mundo.

Por trás disso tudo está a mentalidade de que o empresário é sacana e o governo vai nos proteger. Que loucura!

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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