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O papa Francisco continua encantando o mundo com sua abertura ao diálogo pela paz e pela defesa da dignidade humana. A cada dia a imprensa internacional publica suas atitudes com diferentes interlocutores, trazendo inimigos históricos a um acordo de paz, como no caso de Cuba e Estados Unidos; e propondo uma nova ordem econômica mundial que tenha como base a solidariedade e não a exclusão dos mais pobres. Claro que o papa Francisco continua a tradição da Doutrina Social da Igreja, desde a encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, publicada em 1891 e que defendia os direitos dos trabalhadores. Pio XI, em 1931, com a encíclica Quadragesimo Anno, propunha uma “terceira via” entre o comunismo e o capitalismo; vários de seus sucessores – João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI – contribuíram grandemente na reflexão por uma sociedade global que não seja excludente.

O papa Francisco reconhece o fracasso do comunismo do século 20, que criou um Estado burocrático que historicamente marginalizou milhões com a falta da liberdade. A liberdade humana é um dos fundamentos da ética social cristã. Diante da atual globalização da indiferença com os mais pobres, o papa Francisco tem levantado a voz em defesa de uma economia pautada na ética e de uma política sem corrupção, que privilegie a defesa dos excluídos da sociedade. O posicionamento deste papa tem despertado uma reflexão profunda, pois todas as pessoas de boa vontade querem encontrar um caminho para que as riquezas não fiquem nas mãos de pouquíssimas pessoas enquanto milhões são excluídos dos direitos básicos e os países poderosos continuam a desenvolver um “novo colonialismo” que empobrece sociedades inteiras.

A liberdade humana é um dos fundamentos da ética social cristã

A crítica do papa Francisco ao capitalismo selvagem que muitas vezes tem favorecido um liberalismo econômico deve-se também à sua percepção de latino-americano. O papa vem de uma região onde sociedades inteiras são alijadas do mínimo necessário para uma vida digna. O mercado, a ganância de grandes corporações, a corrupção política e uma economia tecnocrática têm historicamente produzido mazelas sociais que agridem fortemente a humanidade.

O papa está consciente da complexidade da problemática socioeconômica mundial e, seguindo a tradição da Doutrina Social, não propõe respostas técnicas, mas sim bases éticas para uma nova relação econômica em nível micro e macro, na qual as comunidades possam ser solidárias e as nações dialoguem por uma economia em vista do ser humano e do planeta. Na sua recente encíclica Laudato Si’, ele afirma que a exploração desmedida do planeta acarreta sérios problemas às pessoas, e os que mais sofrem são os pobres. Embora esta encíclica não deseje oferecer respostas técnicas, está influenciando as discussões sobre a necessidade de um agir técnico que tenha o ser humano como referência principal, e em que a técnica deva caminhar pautada na ética.

Enfim, o papa, como um dos líderes mundiais mais reconhecidos da atualidade, está contribuindo para que o planeta seja respeitado e para que a economia esteja a serviço das pessoas, e não as pessoas a serviço de um sistema econômico cego que descarta a dignidade humana.

Joaquim Parron, padre missionário redentorista, é doutor em Ética Social pela Catholic University of America (Washington, DC).
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