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Opinião do dia 2

Oposição em tempos difíceis

O PSDB deve ir além. Não pode simplesmente reagir à agen­­da do governo e deve ter a capacidade de ganhar capila­­ri­­da­­de, dialogar com a sociedade

O resultado das eleições permite algumas avaliações de imediato e algumas suposições de longo prazo. No que diz respeito à oposição, o primeiro aspecto a destacar é que levar a eleição para o segundo turno representou uma vitória, contrariando as pesquisas e muitos analistas que davam a disputa por encerrada no primeiro turno. O resultado mostrou fôlego da oposição, que fez 46% dos votos e estabeleceu entre os dois candidatos à Presidência uma diferença que é a menor das últimas três eleições.

Os dois principais partidos da oposição – PSDB e Democratas – saíram fortalecidos das eleições estaduais. A partir do próximo ano, as duas legendas governarão dez estados que concentram mais da metade do eleitorado brasileiro – 52% ou o equivalente a 70 milhões de eleitores. O PSDB foi o principal vencedor nos estados –com oito vitórias – e terá 47,5% do eleitorado sob sua administração.

O cenário, entretanto, é mais complexo. Não custa lembrar que Lula iniciou seu primeiro governo, em 2003, em situação semelhante, com a oposição governando 11 estados, que representavam 58,95% da população brasileira. Também cabe observar a desproporção entre a votação de Serra no 2.º turno e a representação da oposição no Congresso. Enquanto Serra fez 43,95% dos votos válidos, a oposição terá em torno de 20% na Câmara e 25% no Senado.

Para a oposição, vislumbra-se dois caminhos no primeiro momento: o estabelecimento de um polo, não de oposição, mas de poder como alternativa futura, reunindo os governadores e a liderança do senador Aécio Neves e de José Serra. No Congresso, a formação de bloco, pois pela primeira vez nos últimos 20 anos a oposição não terá número para propor CPIs, barrar emendas à Constituição e só o PSDB terá o número regimental para liderar obstrução (verificação de quórum/verificação nominal), instrumentos próprios da disputa parlamentar.

Não se deve esperar postura de combate dos governadores, não só pelo perfil, mas pela natureza da função. Esse papel deve ser exercido no Parlamento, a partir de alguns parlamentares com perfil combativo, além de um trabalho que saiba explorar os momentos de crise no governo ou em votação de temas polêmicos e/ou importantes.

Mas o PSDB deve ir além. Não pode simplesmente reagir à agenda do governo e deve ter a capacidade de ganhar capilaridade, dialogar com a sociedade, mesmo com setores hoje vinculados ou até cooptados pelo governo. Provocar o debate e dar profundidade a ele.

O partido deverá arcar ainda com outra consequência do resultado eleitoral. Além dos aspectos regimentais do Parlamento, a redução da bancada acarretará em diminuição do tempo de tevê para as eleições de 2012. E aí, pode-se entrar em um ciclo "desvirtuoso". Se prevalecer o pragmatismo dos arranjos locais, o que só amplia a falta de identidade e projeto, o partido deixa de lançar candidatos para coligar com outras forças ou para ampliar o tempo de rádio/tevê. Como consequência, também perderá espaço nas eleições de 2014, o que poderá diminuir mais a bancada. Essa é uma das restrições para se pensar em fusão: a lógica local tende a prevalecer. E um partido não cresce só em razão da soma dos projetos pessoais e regionais.

Por fim, uma observação sobre a força do voto, que também fica como lição do processo eleitoral deste ano. Eleições não são decididas por pesquisas, mas pela vontade livre do eleitor, que os institutos não têm retratado, por deficiências metodológicas ou outros fatores. Na última semana de campanha no primeiro turno, as pesquisas de opinião para presidente apontavam vitória da candidata do governo e várias ficaram distantes dos resultados eleitorais nos estados. Na eleição para o Senado no Paraná, a qual disputei, três pesquisas divulgadas a poucos dias das eleições, por diferentes institutos, praticamente decretaram a "morte" da minha candidatura. A última delas, do Ibope, divulgada na véspera da eleição em rede estadual pela Rede Globo, apontava diferença de 20 pontos do segundo colocado. O resultado indicou diferença de 1,74%. Mais de dez vezes inferior à que o Ibope havia projetado.

Não se defende a censura. Quanto mais informação numa eleição, melhor. Mas é preciso discutir o papel e a responsabilidade dos institutos e formas de aperfeiçoar ou até rever a metodologia das pesquisas de intenção de voto, especialmente para o Senado. Os meios de comunicação devem duvidar de muitos institutos de pesquisa e denunciar os falsários e oráculos. A informação incorreta ou manipulada é um crime contra a democracia.

Gustavo Fruet é deputado federal pelo PSDB-PR e líder da Minoria na Câmara.

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