Luis Arce (ao centro) acompanhando de membros do governo da Bolívia nesta quarta-feira (26)| Foto: EFE/ Luis Gandarillas
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A Bolívia já enfrentou, ao longo de sua história, 194 tentativas de golpe de Estado, entre aquelas bem-sucedidas e as que falharam. Essa história de forte instabilidade e crise política na Bolívia foi interrompida por um curto período de tempo, durante os dois primeiros mandatos do ex-presidente Evo Morales (2006-20014). A partir de então, já no terceiro e ao tentar conseguir um quarto mandato e mudar a Constituição para se perpetuar no poder, Morales contribuiu para desestabilizar a democracia que ajudara a consolidar nos anos áureos de seu governo.

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É inegável que o governo de Morales trouxe muitas mudanças positivas para as nacionalidades indígenas e para os pobres, caracterizando-se como um governo nacionalista. A Bolívia, rica em minérios, tinha muitos recursos privatizados que foram nacionalizados sob sua administração. Morales nacionalizou o gás, iniciou a redistribuição de renda e melhorou significativamente o acesso aos serviços públicos, em especial a educação. Essas ações resultaram em grandes melhorias econômicas para o país e para a população mais vulnerável, elevando a popularidade de Morales.

A complexa situação na Bolívia continua a evoluir, refletindo as profundas divisões políticas e os desafios inerentes à reconciliação e à estabilidade

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Contudo, com o passar do tempo, Morales se tornou cada vez mais autoritário, buscando governar sem abrir espaço para outras lideranças. Essa postura culminou em uma crise em 2018, levando a um golpe de Estado encabeçado por oligarquias econômicas de Santa Cruz de la Sierra e por policiais militares que depôs Morales, que foi para o México. A opositora Jeanine Áñez assumiu o poder interinamente e, sem o apoio do Congresso, não foi capaz de superar a instabilidade, ela própria acusada de golpista. A situação começou a se estabilizar apenas com a convocação de novas eleições para 2020, permitindo uma competição política justa.

A oposição ao partido de Morales lançou um candidato diferente de Áñez. O MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales, lançou Luis Arce, economista e que foi o seu ministro da Fazenda durante todo o seu governo. Arce e o MAS venceram com ampla vantagem, demonstrando a força do MAS e a memória positiva dos anos governados por Morales.

Após um período de exílio na México e na Argentina, Morales retornou em 2020, com Arce presidindo o país. Com o tempo, Morales começou a se reorganizar politicamente. Atualmente, o país se encontra em período pré-eleitoral, onde Arce seria o candidato natural à reeleição. No entanto, Morales também deseja concorrer e tem mobilizado suas bases no partido para disputar as primárias com Arce. O grupo de Arce recusou-se a participar do Congresso convocado por Morales, resultando em acusações de traição.

Essa divisão dentro do partido de Morales provocou protestos e bloqueios de estradas por seus defensores, reintroduzindo a instabilidade política na Bolívia. A oposição, composta pela direita e aliada aos militares, está aproveitando essa situação. A polícia militarizada do país se politizou, sendo um elemento crucial na crise, com o exército intervindo posteriormente. A complexa situação na Bolívia continua a evoluir, refletindo as profundas divisões políticas e os desafios inerentes à reconciliação e à estabilidade em um cenário de mudanças constantes e intensas pressões internas e externas.

Luiz Domingos Costa é mestre em ciência política (Unicamp), com graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor do Centro Universitário UNINTER.

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