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As restrições impostas pela pandemia nos colocaram diante de um arsenal de dificuldades e desafios, em graus diversos para os diferentes atores. Por outro lado, foram criadas oportunidades – novamente, mais para uns que para outros – que até trouxeram resultados excepcionais e inesperados para quem melhor identificou e se estruturou na nova realidade. Aparentemente, oportunidades conjunturais.

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Todavia, vem se delineando uma oportunidade estrutural, de reorganização das cadeias produtivas, em função dos transtornos provocados pela excessiva concentração da produção de muitos bens em poucos países. E o Brasil pode capturar o seu quinhão nesse novo desenho, desde que seja mais diligente numa antiga lição de casa, que são os ajustes estruturantes.

A recuperação da competitividade da economia em setores nos quais não temos vantagens comparativas internacionais naturais, mas que têm potencial elevado de contribuir para o aumento da produtividade, passa necessariamente pela redução do Custo Brasil. E isso requer reformas, microeconômicas e macroeconômicas, em complemento às já implementadas nos últimos seis ou sete anos. Outros países, que competem conosco no mercado internacional, têm sido mais determinados na implementação de reformas, comprometendo a nossa competitividade relativa.

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Avançamos pouco no aumento da eficiência do Estado, o que o deixa obeso, caro e fraco. Precisamos de um poder público forte, a serviço da sociedade, e não de si próprio; em assim sendo, precisará de menos recursos para se manter (custo que hoje gira em torno de 20% do PIB), o que permitirá redução de carga tributária. Carga que, além de muito elevada (a maior entre os países em desenvolvimento), é mal distribuída, com concentração excessiva na indústria de transformação. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os impostos de 46,2% que incidem sobre o segmento têm contribuído muito para que ele encolhesse em média 1,6% ao ano na última década.

Entre as mudanças necessárias, importante também a reforma tributária, para simplificar a caótica estrutura de impostos no país, que custa caro às empresas e afasta investidores.

Importantes conquistas estruturantes foram as reformas da Previdência no atual governo e a trabalhista no governo anterior. Mesmo que não tenham abarcado toda a mudança de que o país precisa, representaram sem dúvida avanços a comemorar. E precisamos ter maturidade suficiente para evitar que o calor de uma campanha política não alimente ideias de retroceder nessas conquistas, fruto de ampla mobilização da sociedade, sob o risco de comprometermos ainda mais a nossa competitividade e acentuarmos o nosso vínculo com a armadilha da renda média. Que a reforma trabalhista deve ser dinâmica não há dúvida, mas para adequar a legislação a uma realidade que é mutante, e muito, e não para retrocessos com motivações ideológicas, respaldadas em parte por orientações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que infelizmente continua sensivelmente motivada por um viés político e ideológico.

Por fim, é importante reconhecer que o nosso equilíbrio fiscal há muito também é pressionado pelos chamados custos tributários, renúncias fiscais que beneficiam setores ou empresas específicas. O Brasil precisa desenvolver um grande esforço para tornar a economia mais competitiva e não subsidiar uns ou outros, mais próximos ao poder ou com maior capacidade de lobby.

Carlos Rodolfo Schneider é empresário, membro do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo e do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação da Confederação Nacional da Indústria.

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