Há um experimento que onde quer que tenha sido realizado o mesmo resultado tem sido recorrente. Ele é surpreendente e difícil de ser compreendido. As crianças, quando perguntadas sobre o número de horas por dia que ficam conectados à internet, uma parte delas deixa de responder simplesmente porque, para elas, a pergunta carece de sentido. Da mesma forma, se questionadas quando e quantas vezes elas “entram” na internet, de novo, nem sequer entendem o que está sendo perguntado. O fato é que existe hoje uma fração significativa dos mais jovens que está conectada o tempo todo e, portanto, eles não “entram” na internet pelo simples fato de que nunca “saem”.
A pergunta a ser respondida é como fica a educação nestes novos tempos
Google e outras empresas têm anunciado óculos, relógios, pulseiras e outros dispositivos como precursores de um novo tempo em que o mecanismo de acesso à informação acontecerá por algo grudado ao corpo e não mais descolado do mesmo, como é hoje a prática usual. Embora o sucesso de tal iniciativa ainda seja limitado, é certo que a tendência é clara. Em poucos anos, talvez meses, estaremos fortemente tentados a gradativamente acoplar, de forma inédita, a nossa vestimenta do cotidiano o dispositivo que será a interface permanente de informação e de comunicação.
Teremos muito brevemente associado três tendências fortes que marcarão a cultura, os hábitos e os costumes das próximas gerações: uma sociedade em que a informação estará amplamente disponível, instantaneamente acessível e podendo ser obtida gratuitamente; uma geração que estará conectada de forma quase contínua e permanente; e tecnologias que viabilizam desenvolver todas as tarefas cotidianas sem prejuízo de simultaneamente permitir que as pessoas estejam conectadas em tempo integral.
A pergunta a ser respondida, cujas consequências ainda não avaliamos plenamente, é como fica a educação nestes novos tempos. Provável que a resposta completa não esteja mesmo disponível e os detalhes dependam de particularidades e peculiaridades, associadas com variáveis complexas, incluindo o acaso, difíceis de prever. O que podemos é tentar traçar o perfil deste novo aluno. Com a vantagem que ele, de alguma forma, já existe, o que dispensa que elucubremos demais. Basta examinar as tendências já em curso.
À medida que lidamos com os mais jovens, especialmente crianças e bebês, conseguimos vislumbrar melhor o que virá a seguir. Assim, uma constatação é a impossibilidade da medida temporal de conexão, a ausência gradativa de significado para o clássico “entrar” ou “sair” da internet. Podemos elencar algumas outras características, tais como o relativo desprezo pela memória, largamente compensada pela supremacia na lida com diferentes plataformas de acesso à informação; a disposição de absorver conteúdos, inclusive profundos e longos, desde que disponibilizados nas linguagens e nos módulos temporais apropriados; a compatibilidade de estabelecer com os mediadores educacionais uma relação bastante distinta daquela que conhecemos hoje entre professor e aluno; e a facilidade em trabalhar e desenvolver missões em equipe, independentemente da presencialidade física, entre outros.
Aprender a viver em uma sociedade em que a informação estará disponível e acessível em níveis sem precedentes exigirá de todos nós, sejamos docentes, gestores, formuladores de políticas ou alunos, uma profunda reflexão sobre nossas práticas educacionais.
Com o foco no aluno, talvez fique mais simples imaginar como os demais atores e espaços educacionais se adaptarão ou não. O papel do educador e a missão da escola são elementos que trazem em comum duas certezas, ainda que aparentemente contraditórias: escola e educador sobreviverão e ambos serão tão profundamente modificados que suas novas faces terão uma relação de memória distante com o que foram no passado, ou seja, continuarão a ser, ainda que sendo substancialmente diversos do que foram um dia. Mas, por enquanto, é certo que os alunos mudaram e foi antes da semana passada.
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