As metodologias ativas estão muito em voga contemporaneamente. Após (re)leituras de pensadores do século passado, como Dewey, Vigotsky e Piaget, elas emergem como algo de extrema inovação e, principalmente, como solução para todos os problemas de aprendizagem em nosso país.
O professor, ao fazer o uso de metodologias ativas, um conceito que carece de limites e definições, faz com que o aluno “volte” a ser o centro do processo de ensino e de aprendizagem, ou seja, o mestre provê mais “autonomia” ao aluno para que ele próprio guie seu caminho rumo às aprendizagens que deseja. Na teoria, as metodologias ativas referem-se a todas aquelas que se diferem do modelo tradicional: o professor falando e os alunos escutando. Essa nomenclatura acaba por tentar inserir, em um mesmo pacote, toda a inovação pela qual a educação vem passando. Eu não consigo aprender pelo meu aluno; o processo de ensino é meu e o de aprendizagem é dele, mas eu também aprendo, e ele também ensina, mas cada um abstrai o conhecimento que lhe convém.
Todo professor sabe que existem conteúdos que devem ser apresentados à maneira “tradicional”, mas existem outros que podem ser trabalhados de maneira diferenciada. A questão que se faz é: todos os alunos querem esse ensino mais “ativo”? Ou ainda são “conservadores” e preferem escutar o professor falar?
Será que os estudantes estão preparados para retomar as rédeas? Eles querem assumir o volante de sua própria aprendizagem ou ainda preferem um professor mais presente que expõe conteúdos em vez daquele que organiza a turma para exposições por parte dos aprendentes, as quais chamam erroneamente de “seminários”?
A literatura acadêmica sobre metodologias ativas costuma desprezar toda a história de luta dos professores nas salas de aula
Compreender essa nuance consistiu em um dos pontos investigados por uma pesquisa realizada pela equipe interacadêmica do Eixo RH na Academia, da ABRH-PR, em parceria com a Diferencial Pesquisa. Foram pesquisados 2.027 alunos de 11 instituições de ensino superior (IES) em Curitiba, entre outubro de 2015 e maio de 2016; os estudantes eram de cursos de graduação e de pós-graduação (especializações e MBAs) das áreas de administração/gestão, contabilidade e engenharia. O objetivo da iniciativa foi gerar conteúdos e insights de impacto, que contribuam com a atuação das instituições de ensino superior, promovendo melhorias e avanços contínuos na formação dos estudantes da região.
A pesquisa demonstrou que mais de 65% dos alunos de bacharelados e licenciaturas preferem que o professor exponha os conteúdos. Isso também é uma tendência em pós-graduações lato sensu: mais de 57% também preferem que o professor exponha os conteúdos. Os alunos tecnólogos caminham um pouco na direção contrária: 47% afirmam preferir que o professor exponha os conteúdos.
Essa preferência por parte dos alunos não tira deles a autonomia; afinal, em uma questão na qual se pedia que os alunos concordassem ou discordassem de alguma afirmação, 40% concordaram totalmente com a afirmação “Na minha escola, o estudante é visto como um ator ativo no processo de ensino”; deste montante, 34% estão na faixa de alunos que preferem que o professor exponha o conteúdo em vez de organizar a turma em seminários, ou seja, professor que expõe conteúdo não tira a autonomia do aluno. Apenas 2,3 % dos alunos discordaram totalmente da afirmação, sendo que 50% deste grupo era composto por aqueles que preferem que o professor exponha os conteúdos. Aqui surge um ponto de inflexão; afinal, estes não se consideram vistos como ativos no processo, mas ao mesmo tempo preferem que um professor dê mais aulas expositivas.
Outro número importante se refere ao local em que o professor expõe os conteúdos, pois 65% dos alunos da graduação (bacharelado e licenciatura) preferem os conteúdos passados em sala de aula em vez de serem tratados em outros espaços, como laboratórios ou organizações. Esse número pode contribuir para questionar e problematizar a eficácia dos métodos ativos em que o professor oferece um material prévio ao aluno (fora da aula) para que, na aula, o texto seja apenas problematizado. Na pós-graduação, onde se supõe que o aluno queira mais da prática do mercado, a tendência segue alta na mesma direção da graduação: mais de 57% preferem que o conteúdo seja compartilhado em sala de aula. Os alunos dos cursos tecnológicos, em sua maioria (63%), preferem conteúdos expostos fora do ambiente formal da sala de aula.
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Sempre fui muito crítico desse uso mercadológico agressivo do termo, pois entendo que toda aprendizagem é ativa, assim como todo método: o professor não é um ser humano fechado em si mesmo, nem o aluno. Uma aula não acontece sem a atividade do professor, nem do aluno. Mas meu objetivo, aqui, não é desprezar todo o caminho que a educação vem percorrendo para se reinventar e se adaptar a essa contemporaneidade que está, no momento, em um estado aparentemente permanente de crise. O objetivo é, ao contrário, o de trazer à tona, também, toda a complexidade em que o processo educativo se envolve.
A literatura acadêmica sobre metodologias ativas costuma desprezar toda a história de luta dos professores nas salas de aula, que há anos praticam a verdadeira metodologia ativa, utilizando-se de mil maneiras para que seu aluno aprenda, e que hoje tem de escutar que as metodologias ativas são algo inovador e que irão resolver muitos dos problemas da aprendizagem. Na educação não podem existir receitas que se apliquem a todos; a sua complexidade deve ser entendida e respeitada. A pesquisa mostra que, pelo menos em Curitiba e região, o professor ainda é a referência no processo de ensino e de aprendizagem, mas isso não tira do aluno a sua autonomia.
O que deve ficar do exposto é a necessidade de que a educação não pode ceder a modismos mercadológicos, e sim focar em ações de garantia de sucesso acadêmico do aluno. A educação nunca caminhou a passos largos e, embora ela não consiga acompanhar o ritmo frenético com que a sociedade avança, ela tem se mostrado aberta ao uso de novas abordagens, currículos e tecnologias.
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