O crescimento das cidades em países emergentes está aquém da capacidade dos arquitetos atuarem no sentido de proporcionar melhor qualidade de vida para seus habitantes

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No último ano, cerca de 21 milhões de pessoas, aproximadamente a população da Grande São Paulo, se estabeleceram na zona urbana da China, contribuindo para que, pela primeira vez na história, a população urbana ultrapassasse a rural.

Na Nigéria, no continente africano, o crescimento urbano impulsionado nas últimas décadas pelos recursos da produção de petróleo totalizou 10,578 milhões de habitantes na capital Lagos, e 3,395 milhões de habitantes na cidade de Kano, uma população semelhante à da Grande Curitiba.

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Nas sociedades mais maduras, as cidades estão mais consolidadas. Em muitos casos, foram construídas em muitas centenas de anos. Neste cenário, as cidades europeias ainda ficarão incluídas durante muitos anos entre as mais belas e aprazíveis do planeta.

Em locais com maior tradição cultural em sua arquitetura, a qualidade do espaço construído é mais presente em Buenos Aires, Montevidéu e Punta del Este. Nos países emergentes, as realidades são outras, assim como os modelos de urbanismo. Há uma enorme curiosidade por parte dos arquitetos, dentre os quais eu me incluo, em conhecer essas novas cidades em processo de formação.

Nesta década, as cidades brasileiras ainda vão passar por muitas transformações. Nas áreas menos favorecidas, a qualidade do espaço construído tenderá a melhorar com o incremento do poder aquisitivo da população, que deverá cobrar dos municípios melhores espaços públicos.

Quanto à paisagem urbana das áreas usadas pela classe média, talvez tenhamos de levar algum tempo para obtermos melhor qualidade no desenho das edificações e melhor infraestrutura a ser executada pelo poder público.

O crescimento das cidades em países emergentes está aquém da capacidade dos arquitetos atuarem no sentido de proporcionar melhor qualidade de vida para seus habitantes. Entre os profissionais que trabalham diretamente com os espaços das cidades, o arquiteto urbanista é um dos mais habilitados.

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O tratado mais antigo de que se tem notícia foi escrito por Vitruvius, que vivia no século 1 no Império Romano. Seus conceitos sobre projeto, construção, cidade e sustentabilidade ainda fazem parte essencial da formação do arquiteto.

Atualmente existem cerca de 240 cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil. Embora o mercado de arquitetura de interiores absorva grande contingente de formandos, o ensino ainda é basicamente um desdobramento da Bauhaus, famosa escola alemã que revolucionou o desenho industrial no início do século 20. Esse modelo enfatiza o caráter de atendimento social que supera o enfoque de cunho estético, típico das Escolas de Belas Artes do século 19.

Durante os primeiros anos do governo Getúlio Vargas, em dezembro de 1933, como parte do processo de modernização das leis sobre as relações de trabalho, foi criado o dispositivo legal que regulamentou as profissões de engenharia, arquitetura e agronomia no Brasil, que resultou no sistema Confea-Crea. Dentro do espírito nacionalista da época, procurou-se dificultar a presença de profissionais estrangeiros. Em função do número reduzido de escolas e de profissionais, foram agrupados, em um mesmo conselho, diversas atividades vinculadas ao projeto e às construções de modo geral. Essa é a origem da dificuldade que a sociedade ainda possui para diferenciar as atividades dos arquitetos e dos engenheiros.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a mais antiga entidade da profissão, instituído em 1921, passou a liderar o debate sobre a criação de uma nova lei e de um conselho próprio, no fim da década de 1950.

Um Colégio de Arquitetos formado pelas cinco principais entidades, além do IAB, a Federação de Arquitetos do Brasil (FNA), Associação Brasileira de Ensino da Arquitetura (ABEA), Associação Brasileira de escritórios de Arquitetura (AsBEA) e Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), debateu intensamente a formatação de uma nova lei.

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A presença de cerca de 100 mil arquitetos no Brasil e o prestígio reconhecido pelas personalidades mais atuantes contribuiram para que no dia 30 de dezembro de 2010 o presidente Lula assinasse a lei que criou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU).

Com um conselho próprio e uma presença mais marcante na sociedade, os arquitetos terão melhores condições de colaborar no aprimoramento dos espaços construídos das cidades.

Salvador Gnoato, arquiteto, é professor na PUCPR.

Este texto faz parte de uma rodada quinzenal de discussões sobre a cidade. Também integram o grupo Fabio Duarte, Clovis Ultramari e Irã Taborda Dudeque. Tema desta rodada: o arquiteto e a construção da cidade.