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Os desafios e o futuro da Monarquia britânica após Elizabeth II

Cortejo fúnebre da rainha em Londres, 19 de setembro de 2022. (Foto: EFE)

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Os grandes acontecimentos na humanidade, habitualmente, lançam muitas questões, dúvidas e reflexões sobre o futuro do mundo. Essa característica única dos seres humanos diferencia-nos pela capacidade de racionalizar e elaborar uma série de perspectivas, possibilidades e tendências sobre o que poderá, no futuro de curto, médio e longo prazos, modificar a nossa realidade, o contexto e/ou nossa vida cotidiana.

O episódio ocorrido no último dia 8 de setembro refere-se ao fim da longa e interessante vida da Rainha Elizabeth II, o que nos leva a pensar e questionar sobre o que acontecerá a partir de agora e o quanto as coisas estão mudando. A permanência longínqua no reinado de Lilibet, apelido carinhoso de infância, trouxe uma sensação de continuidade, estabilidade e equilíbrio entre o tempo, os acontecimentos e as condições contextuais existentes, que agora foi modificada.

Na perspectiva do Reino Unido, a situação não é somente de mudança, mas de instabilidade e preocupação quanto ao futuro do país e da Commonwealth, Comunidade das Nações. As raízes da Commonwealth remontam ao Império Britânico e constitui-se uma associação voluntária de 56 países independentes e iguais, liderada pelo Reino Unido, sendo que em algumas dessas nações o chefe de Estado é o monarca da Inglaterra, papel exercido ao longo de 70 anos pela Rainha Elisabeth II, agora sob a liderança do Rei Charles III.

A Commonwealth é o lar de 2,5 bilhões de pessoas e inclui economias avançadas como Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Índia, Malásia e Singapura, além do Reino Unido, composto pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Além desses países, muitos outros situados na África, Caribe e Ásia também compõem essa comunidade, que precede o atual conceito de blocos econômicos, ainda quando o Império Britânico dominava grande parte da força bélica naval, a economia e o comércio internacional em todo o mundo.

Os governos membros da Comunidade das Nações concordam em compartilhar metas como desenvolvimento econômico e social, democracia e paz, estado de direito, boa governança e desenvolvimento sustentável na moderna forma expressa na Carta da Commonwealth, sendo que qualquer país pode integrar a comunidade, assim como ocorreu em 2022 com o Gabão e Togo.

A situação global se difere bastante desses tempos do Império Britânico, do fim do século 19 e início do século 20, pois conta, atualmente, com um conjunto de características de populações, forças econômicas e geopolíticas e a presença cada vez mais constante, dependente e necessária da tecnologia na humanidade.

No caso da Commonwealth, aproximadamente 60% dos 2,5 bilhões de pessoas que compõem os países-membros estão abaixo dos 30 anos de idade, em especial nos países mais populosos e pobres como a Nigéria, Uganda, Gana e Quênia, ou em desenvolvimento como África do Sul e Índia.

As características desses países colocam questões importantes para um novo ciclo de liderança e reinado britânico, como a ampliação por liberdades fundamentais e individuais, disponibilidade de informação, mudanças constantes na demanda de produtos e serviços acessíveis, sustentabilidade do planeta, mas, principalmente, um crescente desejo e busca por acesso à qualidade de vida digna e adequada pelos jovens.

Uma mudança na forma de abordar e tratar os liderados em todo o mundo é o primeiro desafio que se impõe ao Rei Charles III, demandando alterações estratégicas no atual modelo de gestão de “A Empresa”, designação ao negócio realizado sob a marca e imagem da família real britânica. Até o fim do reinado de Elizabeth II, estes negócios eram baseados na grande e positiva popularidade da rainha que, a partir de agora, passa a se modificar necessitando de novos fundamentos e motivações para a continuidade.

É notável que, agora, a situação do Reino Unido, como uma potência mundial, é frágil e desafiadora. A morte da rainha Elizabeth II, somada às instabilidades vivenciadas no Reino Unido como a troca de primeiros-ministros, queda da importância relativa da moeda, crise energética e econômica na Europa, problemas climáticos e guerras em países vizinhos, marcam um ambiente de incertezas e instabilidade no cenário internacional atual.

Eduardo Fayet é professor de Relações Institucionais e Governamentais na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB), graduado em Administração e Doutor em Engenharia da Produção. 

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