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Há pouco mais de meio século, o Brasil deixava de ser majoritariamente rural para se transformar em predominantemente urbano. Se alguém afirmasse, no começo da década de 60, que o somatório dos empregos rurais, acrescidos daqueles da indústria, representaria um quinto das vagas de trabalho nos dias de hoje, soaria absurdo. Se alguém projetar que, ao longo dos próximos 50 anos, os empregos, pelo menos como nós os conhecemos atualmente, simplesmente não existirão mais ou serão residuais e pouco relevantes, igualmente beirará o inacreditável.

No entanto, aquilo que a experiência passada mostrou ter de fato ocorrido é somente um alerta para o fato inexorável de que as surpresas do futuro virão antes e serão mais radicais que o profetizado. Grave é que o nosso ensino, o qual se mantém inalterado há décadas, produz profissionais para empregos que já não existem mais ou que rumam rapidamente para a extinção. Chega a ser irresponsável estimular os jovens para empregos públicos que serão inevitavelmente reduzidos, absurdamente competitivos, mal remunerados e, com raras exceções, frustrantes do ponto de vista de realização profissional e pessoal.

É o fim de uma era em que, a partir de um conjunto delimitado de técnicas e procedimentos, teria sido possível um profissional atender as demandas de uma área de atividades. O mundo que se avizinha vai muito além de substituir os músculos pelas máquinas. Artefatos inteligentes, baseados em automação, modelagem e simulação, prometem progressivamente substituir a mente humana, desempenhando as tarefas, mesmo as mais complexas, com maior competência.

Assim, enquanto os setores público e privado tradicionais têm cada vez menos oportunidades a oferecer, simultaneamente emergem possibilidades para empresas inovadoras criadas para atender essas novas realidades.

Esse quase irreversível futuro pode ser mais perverso e excludente que o presente. Ou não. Alternativamente, o que está por vir pode representar um universo de oportunidades ao exercício da criatividade, pleno de estímulos à prática do colaboracionismo e do empreendedorismo inovador. E tudo depende (também) da educação, desenvolvida dentro e fora da escola.

Se estimularmos a aprendizagem independente e a adoção consciente e inteligente das tecnologias digitais, certamente teremos como explorar janelas de oportunidades que viabilizem um desenvolvimento social, econômico e ambiental sustentável. Sem isso, apegados ao quase falido ensino praticado, caminhamos apressados para o desastre que se anuncia.

As sociedades sempre tiveram a real possibilidade de escolher seu futuro, mesmo quando não o fizeram, optando pela passividade, ou quando deliberadamente escolheram caminhos errados. A viabilidade de conjugarmos no Brasil educação com inovação e desenvolvimento sustentável continua aberta e atraente, mas o relógio está correndo. E ele não para.

Ronaldo Mota, chanceler acadêmico da Universidade Estácio de Sá e diretor corporativo de Pesquisa do Grupo Estácio.

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