Guerreiros no Japão feudal, os samurais eram responsáveis pela defesa das propriedades rurais e dos seus senhores, os Daimyô ou Xogum. Mestres nas técnicas de manejo de armas e identificados por portarem duas espadas presas ao quimono, viviam preparados para a guerra. Em tempos de paz, dedicavam-se às artes -- literatura, caligrafia, filosofia, pintura e à cerimônia do chá.
Para eles, não havia honra maior do que morrer defendendo seu senhor ou sua própria reputação, além do fato de seguirem e viverem o seu código de honra, o Bushidô. Nele, o samurai se propunha a servir com o máximo de empenho, lealdade e bravura, bem como aceitar a morte a qualquer momento por uma causa justa e honrosa. Bushidô, ao pé da letra, significa "caminho ético do samurai". Mas pode ser considerado como um conjunto de leis para a vida e a conduta dos antigos guerreiros japoneses. Seus principais preceitos eram a retidão, a coragem, a benevolência, a polidez, a sinceridade, a honra, o dever e lealdade. Quando um samurai cometia alguma falha ou tinha o caráter manchado, era instruído a praticar o Harakiri ou Seppuku, suicídio através do corte do ventre. Para eles, a desonra era um mal incurável e a única saída, a morte. O ritual era realizado com uma adaga. Ajoelhado, o samurai perfurava o ventre e dilacerava-o em forma de cruz até as vísceras ficarem expostas, que significava que ele estava mostrando sua verdade e oferecendo seu interior para a purificação. Apesar de os samurais não existirem mais, seus valores morais e éticos continuam vivos como um dos grandes guias de conduta da sociedade.
Também nesta época os ninjas ganharam notoriedade, não como heróis ou defensores dos senhores feudais, mas como guerreiros do mal, mercenários, cruéis, dispostos a fazer todo tipo de serviço sujo por recompensas. A grande diferença entre os samurais e eles é que os ninjas, traiçoeiros, silentes e rápidos, não viviam o Bushidô, não seguiam nenhum código moral e de ética e não se importavam em usar métodos baixos para atingir objetivos. Eram excelentes na arte da camuflagem e se diz até que se tornavam invisíveis, principalmente à noite, quando se escondiam atrás das sombras com vestimentas negras.
Recente episódio no xogunato de Brasília mostra bem as diferenças entre ninjas e samurais. Uma "autoridade" ninja, de punho cerrado, afrontou indelicadamente um membro da mais alta corte do país, um samurai, digamos, afirmando que lhe daria umas "cotoveladas". O samurai deve ter pensado "nada como um dia após o outro".
Passados alguns meses, este gordinho ninja do partido governista foi descoberto em conluio com um ninja doleiro tramando golpe no Ministério da Saúde, para enriquecer a qualquer custo. Flagrado, o ninja foi ao Congresso do xogunato explicar o inexplicável, pedir desculpas a seus pares, à sua família e dizer que sua relação com o ninja doleiro era eventual. O estrago já estava feito. Descobriu-se que ambos eram sócios e o deputado ninja pediu licença do seu cargo, não sem antes ameaçar: "se eu cair, levo junto gente graúda". O samurai deve ter saboreado o episódio.
Este, porém, é apenas um caso entre milhares exatamente iguais que ocorrem neste país. Sempre que se descobre algo de errado no governo do xogunato central, as desculpas são as mesmas. Não sabia, peço desculpas, nada há de errado para ser apurado, não temos culpa etc. É incrível a capacidade dos ninjas em desvirtuar os fatos. Há 11 anos o Brasil vê uma inversão de valores e uma falta de princípios morais e éticos nunca antes vistas na história deste xogunato.
Os ninjas agem às sombras: quebraram a Petrobras. Mas, despudoradamente, o seu ex-presidente ninja Sérgio Gabrielli tem a petulância de dizer que os negócios foram bons para a empresa. Endividada, estagnada, desvalorizada, a empresa transformou-se em propriedade privada do partido dos ninjas, que faz dela o que bem entende. E pior, nenhum ninja é responsabilizado pelo seu uso político e quebra.
O Bushidô dos samurais e seus valores no xogunato brasileiro foram esquartejados, tripudiados, desprezados, menosprezados. Para os ninjas, vale mais fomentar a disputa entre as classes, vale mais fazer distinção de raças, vale mais o bandido que o policial, vale mais a censura à imprensa, vale mais apoiar ditaduras que democracias, valem mais programas de baixo nível que imbecilizam a população, vale mais o desrespeito às instituições, vale mais o malandro que o honesto, vale mais o mensaleiro que o juiz, vale mais o superfaturamento que o valor das obras, vale mais confundir a população, enfim, vale qualquer artimanha para atingir seus objetivos, exatamente como faziam os sorrateiros antigos ninjas.
Cláudio Slaviero, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro A vergonha nossa de cada dia.
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