Como um verdadeiro tutor dos cofres públicos paranaenses, aparentando grande preocupação com o orçamento do Ministério Público do Paraná, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do estado, Cláudio Marques Rolin e Silva, assinou artigo na Gazeta do Povo de 22 de fevereiro. Pela sua leitura, tem-se a impressão de que o rombo nas contas do estado foi causado pelo MP, ao efetuar o pagamento de um benefício previsto em lei e regulamentado pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Nobre causa, não fosse a curiosa falta de memória do autor do texto.

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O pagamento do mesmo benefício aos membros do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas do Estado é ignorado pelo articulista, do mesmo modo como são esquecidas as despesas realizadas pelo Poder Executivo paranaense, ao qual são subordinados os delegados de polícia. Gastos no aumento do número de nomeações de servidores para cargos comissionados no governo e despesas com refeições, bebidas e solenidades, divulgadas pela própria Gazeta do Povo, não lhe interessam. A culpa é toda do Ministério Público!

A saúde financeira do Paraná interessa a todos os paranaenses. No entanto, essa discussão deve, sim, ser feita de forma séria, ampla e com todos assumindo sua parcela de responsabilidade

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Como arauto da defesa do patrimônio público, deveria o delegado e sindicalista ter se reportado ao episódio em que colegas seus foram flagrados usando veículos oficiais, abastecidos com recursos do estado, para ir à padaria, apanhar os filhos na escola, comprar ração para o cachorro ou mesmo frequentar prostíbulos. Curiosa forma de zelar pelo dinheiro público.

Aproveitando o espaço, numa espécie de inconformismo tardio, o sindicalista retoma o tema da PEC 37. Aqui, novamente, sua memória é curta. Ele se esquece de que os brasileiros sepultaram a medida por ser inconstitucional e nociva ao país. Omite os resultados das investigações de infrações penais que o Ministério Público tem apresentado à sociedade. Os políticos investigados e denunciados no caso do mensalão; os ex-diretores da Petrobras e os empreiteiros milionários que assinam hoje acordos de colaboração com o MP, revelando ao país um dos maiores esquemas de corrupção de que se tem notícia; aqueles que subtraíram mais de R$ 200 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa do Paraná e foram investigados e denunciados por seus crimes e seus atos ímprobos pelo MP; os policiais corruptos, torturadores, homicidas e lavadores de dinheiro que respondem a processos criminais decorrentes de investigações e denúncias oferecidas do MP, desonrando suas nobres funções e constrangendo aquela grande maioria de competentes e honrados policiais. A todos esses casos o texto se mostra indiferente.

A saúde financeira do Paraná interessa a todos os paranaenses. No entanto, essa discussão deve, sim, ser feita de forma séria, ampla e com todos assumindo sua parcela de responsabilidade. Oportunismos e provocações não são a solução. Um erro estratégico na luta que o delegado, assim como Dom Quixote, pensa travar. Dessa forma, somente contribui para que feridas ainda abertas nas relações entre delegados de polícia e membros do MP demorem mais a cicatrizar. Um serviço prestado à criminalidade que esses profissionais devem, juntos, investigar e acusar. Um desserviço à sociedade paranaense.

André Tiago Pasternak Glitz, promotor de Justiça, é integrante do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado de Curitiba (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Paraná.