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Há um provérbio italiano segundo o qual "mal de muitos consolo é" e que se aplica ao caso brasileiro na atual crise. O que mais as nossas autoridades governamentais falam é que o Brasil será o primeiro país a sair da crise. E só não sairá antes porque o setor público é a grande pedra no caminho da nossa sociedade. Apresento aqui algumas condições favoráveis e outras negativas para o nosso país. Entre os fatores que ajudam o Brasil neste momento de crise estão:

a) a dívida interna: fenômeno que não para de crescer, uma vez que aumenta diariamente, não está indexada ao dólar, o que é bom, neste momento em que o dólar, que antes da crise estava próximo de R$ 1,50, mas agora anda levemente acima de R$ 2,00.

b) as reservas cambiais elevadas, ao redor de US$ 200 bilhões, é um fator altamente positivo porque reduz o risco-Brasil.

c) os bancos brasileiros com baixa alavancagem, uma vez que para cada R$ 1 disponível o volume de empréstimo é de (apenas) cinco vezes. No caso de Lehman Brother, que quebrou, a relação era de 31 vezes.

d) o fato de o Brasil ser um grande exportador de alimentos, setor econômico que relativamente menos deve sofrer com a crise, uma vez que as pessoas podem desistir de comprar uma nova televisão ou um novo carro, mas jamais deixarão de consumir alimentos. O mundo, cada vez mais, vai demandar os produtos do agronegócio brasileiro.

e) o fato de o mercado interno brasileiro ter maior poder aquisitivo, fundamentalmente por causa de três fatores: o controle da inflação, o programa assistencialista do Fome Zero e a facilidade de crédito. Tanto é verdade que o número de consumidores das classes D e E diminuiu e o da classe C aumentou nos últimos três anos e hoje já representa mais da metade da população brasileira. Neste momento de crise, as classes D e E devem aumentar novamente.

Entre as condições negativas que vão dificultar para o Brasil sair da crise pode-se citar:

a) descontrole do setor público, uma vez que a gastança cresce exponencialmente. Basta dizer que em apenas quatro itens (juros, pessoal, máquina administrativa e déficit previdenciário) o governo "torra" mais de R$ 1,3 bilhão por dia.

b) crédito bancário mais escasso e mais caro. Os bancos estão ainda muito cautelosos e preocupados com a inadimplência, que tem aumentado. Apesar de a taxa Selic vir caindo, as taxas de juros para as empresas e os consumidores continuam ainda muito elevadas.

c) queda brutal nos investimentos produtivos privados. Sem dúvida que este é o fator mais preocupante, pois o crescimento econômico não ocorre sem investimentos em novas máquinas e equipamentos e em expansão da capacidade produtiva das empresas.

d) a infraestrutura física (transporte e portos) e social (educação, saúde e segurança), por causa dos baixos investimentos públicos, é uma condição negativa que dificulta a saída da crise.

Infelizmente, no caso brasileiro, o governo continua sendo a grande pedra no caminho das empresas e da população porque investe muito pouco. Basta dizer que para cada R$ 25 em gastança, o nosso governo investe apenas R$ 1, ou seja, quase nada. Há muita retórica, mas pouca ação efetiva.

Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. em Economia pela Ohio State University, autor de seis livros e diretor-presidente da Estação Business School.

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