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 | Paulo Pinto
| Foto: Paulo Pinto

Ainda não ocorreu o segundo turno das eleições municipais, mas o fato mais marcante desse pleito já está dado: a acachapante, humilhante, estrondosa derrota do PT com destaque para o fiasco sofrido por Lula, que outrora conseguia eleger postes como Dilma Rousseff e Fernando Haddad.

O impeachment de Dilma já mostrava o tremendo baque no prestígio do chefão e de seu partido. Foi a continuidade de um processo iniciado com as manifestações espontâneas de rua que pediam “fora, Dilma”, “fora, Lula”, “fora, PT”. Do inconformismo popular com o caos econômico chegou-se à repulsa eleitoral, e tão maldita se tornou a sigla PT que, juntamente com a simbólica estrela, foi escondida por petistas que disputaram a eleição.

Há uma análise risível que aponta de forma equivocada a vitória da direita contra a esquerda

Há quatro anos foram 644 prefeituras conquistadas pelo PT. Agora a perda foi de 60%, com apenas 256 petistas eleitos, sendo que há sete disputando o segundo turno com poucas chances de vitória. O partido perdeu feio no chamado “cinturão vermelho”, região do ABCD paulista, sendo que, em São Bernardo do Campo, Lula nem sequer conseguiu eleger o filho vereador. Mas, sem dúvida, a derrota mais sentida foi na capital paulista, a joia da coroa, com a vitória de João Dória, do PSDB. Haddad, candidato à reeleição, teve a pior votação do PT em São Paulo, resposta ao seu péssimo governo.

Outros fatos significativos desta eleição foram a dispersão partidária – pois, segundo dados do TSE, 31 partidos vão comandar pelo menos uma cidade no ano que vem – e o aumento de votos nulos, brancos e abstenções, o que indica a insatisfação com os políticos e a necessidade de uma reforma política que inclua o voto facultativo.

Entre as análises que se seguiram para explicar os resultados eleitorais uma é risível, pois aponta de forma equivocada a vitória da direita contra a esquerda. Para começar, os eleitores, em sua maioria, não têm a menor noção do que seja direita ou esquerda. Também não votam em partidos, mas em candidatos.

Quanto aos partidos, conforme escrevi em um dos meus livros, O voto da pobreza e a pobreza do voto – A ética da malandragem, “são clubes de interesses, trampolins para se chegar à vitória. Acentua-se neles o oportunismo, a ausência de qualquer ideologia, princípio ou disciplina, a caça às vagas nas convenções, o acerto de interesses eminentemente pessoais de poder pelo poder”.

Note-se que mesmo o PT, que se diz de esquerda, nunca conseguiu em seus inúmeros congressos definir qual é seu tipo de socialismo. No cargo mais alto da República, Lula se lançou com fúria a uma espécie de socialismo selvagem, no qual só lhe interessava conservar o poder e se dar bem, ao mesmo tempo em que se associava a oligarcas como José Sarney e personagens antes execradas como Paulo Maluf. Os banqueiros nunca obtiveram tanto lucro e os maiores empreiteiros, agora presos pela Lava Jato, foram os grandes companheiros que sustentaram as campanhas de Lula e seu altíssimo nível de vida. Aliás, no governo petista, companheiros e compadres se locupletaram, formando o que o jornalista Vinicius Mota chamou de “elite vermelha”.

Quanto à inclusão social de que tanto Lula se gaba, resultou na recessão, na inadimplência, no desemprego, nos “PIBinhos” e, portanto, no empobrecimento geral do país. Assim, sem nenhuma dúvida, pode-se afirmar que, para além dos escândalos de corrupção que fizeram parte do governo petista, o que realmente levou o partido a ingressar no rol das agremiações nanicas foi o fato inexorável de que não há governo que resiste quando a economia vai mal.

O PT foi muito mal e, por isso, é totalmente equivocado petistas se denominarem orgulhosamente de “progressistas”, chamando com desprezo os demais de conservadores e neoliberais. Lula e seus companheiros são regressistas em todos os sentidos. Fizeram o Brasil regredir na economia, na política e, socialmente, através da perda de valores. Que o povo não se esqueça da amarga lição para que esse capítulo negro de nossa história não se repita.

Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga e professora, é autora de “O voto da pobreza e a pobreza do voto – a ética da malandragem” e “América Latina – em busca do paraíso perdido”.
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