Venho, fazendo coro a algumas vozes que já se levantam, manifestar a preocupação dos brasileiros com um fato da mais alta gravidade que vem ocorrendo no país: o fechamento de fábricas, sintoma de que algo muito errado está acontecendo no Brasil.

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O Paraná assiste atônito às notícias de que dão conta de que a fábrica da Tritec – uma empresa fabricante de motores de alta teconologia, de propriedade da Daimler-Chrysler e da BMW do Brasil – está sendo vendida para uma empresa chinesa, a Lifan. Até aí seria um fato normal na vida das empresas. Mas o que chama a atenção e que nos deve fazer refletir é a intenção do governo chinês, por decisão do próprio Partido Comunista, de desmontar a fábrica e remontá-la na China. Isto demonstra, de um lado, a preocupação e ação dos governantes da China em conquistar a mais alta tecnologia e, de outro, a despreocupação e o desleixo das autoridades brasileiras em criar condições favoráveis para o desenvolvimento de sua indústria. Os chineses sabem que precisam de uma fábrica moderna e de tecnologia avançada para colocar a sua produção nos países desenvolvidos.

A perda de uma indústria da qualidade técnica como a da Tritec significa um retrocesso na caminhada do Brasil para adquirir capacitação tecnológica. Significa que seremos eternamente área de repasse de tecnologias e ferramentas ultrapassadas, sem condições de competir globalmente.

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Outros setores também estão sendo atingidos por este mal. O calçadista não consegue mais competir no exterior, vem fechando fábricas e perdendo mercado externo. Os empresários com mais recursos transferem suas fábricas para o exterior, os outros quebram, deixando um rastro de desolação e desemprego nas comunidades onde estão instaladas. O setor madeireiro, em especial o do Paraná, não consegue mais exportar e vem perdendo mercado, conquistado ao longo de várias décadas, com muito investimento, negociação e trabalho duro.

Analistas econômicos chamam este fenômeno de "doença holandesa", numa referência à situação vivida pela Holanda, a partir da década de 60, quando uma política de valorização cambial levou a inviabilização da produção industrial naquele país.

O setor agropecuário, já castigado pela seca e pelos juros escorchantes, enfrenta agora a dificuldade imposta por uma taxa cambial cada vez mais desfavorável, que obrigará os produtores rurais a vender a sua safra a preços vis, agravando uma situação já difícil.

Esse processo de desindustrialização atinge também o setor agropecuário, cujo dinamismo está intimamente vinculado ao crescimento da agroindústria, que agrega valor à produção, financia a pesquisa, melhora a qualidade técnica da produção e incorpora tecnologias inovadoras. Por vários anos a agroindústria foi o motor do desenvolvimento e do progresso do interior do país, com a abertura de novas regiões produtoras, novas oportunidades de emprego e de geração de renda. Este processo, que tantos benefícios traz ao Brasil, está não só sendo interrompido, quanto revertido, com a inviabilização de vários projetos produtivos.

Vários são os motivos que geraram este processo de desindustrialização e desenvestimento: o primeiro deles é o real supervalorizado. Nenhum país exportador consegue manter tal relação cambial por muito tempo, sem afetar a sua base produtiva. Não por acaso a China foge de qualquer valorização de sua moeda. O segundo motivo é a manutenção das mais altas taxas de juros, que inviabilizam os investimentos. O terceiro motivo, não menos importante, é a insegurança jurídica predominante no país e a quebra de contratos, aliada a um ambiente claramente hostil ao investidor privado, tão evidente, por exemplo, nas ações do governo do Paraná.

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Outros analistas econômicos afirmam, porém, que se muitos setores estão enfrentando dificuldades, há os que estão sendo beneficiados. Pode até ser verdade, mas o fato é que o setor exportador está sendo inviabilizado e que mais compensa importar bens e serviços no Exterior do que produzi-los no país. Enquanto o primeiro, devidamente estimulado, conseguiu reduzir nossa dependência externa, baixar o risco Brasil e evitar uma crise cambial séria, o segundo foi o responsável, no passado, por várias crises graves na economia brasileira. Além do mais, os segmentos prejudicados são exatamente os que detêm o maior índice de nacionalização, como a agroindústria, as indústrias de calçados, madeira beneficiada e móveis. Os beneficiários desta insana política cambial são exatamente aqueles que já estão na mão de capitais internacionais.

As autoridades da equipe econômica do governo, respaldadas por alguns números macroeconômicos, induzem o pensamento de que a economia brasileira navega em águas tranqüilas, e que, devido à ação do governo, o país atinge uma maturidade e estabilidade econômica jamais vistos.

Isto seria verdadeiro se estivéssemos assistindo ao "espetáculo do crescimento" tão prometido. Mas, infelizmente, dos países da América, o crescimento do Brasil só foi superior ao do Haiti, que cresceu 1,5%. É uma oportunidade perdida, numa conjuntura de liquidez e de crescimento do comércio internacional, extremamente favorável aos países em desenvolvimento. Se não conseguimos crescer e se fábricas estão sendo fechadas algo está errado no cenário econômico brasileiro.

O governo alega que a política de câmbio flutuante é a melhor política (o que é verdade), e que, portanto, não deve intervir. Ocorre que a manutenção de altas taxas de juros pelo Banco Central atrai dólares do exterior, que são recursos especulativos à procura da melhor remuneração existente hoje no mundo. E isto faz com que o câmbio permaneça ainda mais depreciado, numa forma indireta de intervenção para manter o dólar baixo. O Banco Central, por sua vez, é extremamente conservador na sua política de juros.

Se a sociedade brasileira não reagir com rapidez, este intenso processo de desindustrialização se intensificará e os danos serão irreversíveis. Esta característica, ao que parece, será a marca do governo Lula. O país voltará a ser exportador de produtos primários, não elaborados e continuará a ser um player secundário no comércio internacional.

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Se hoje estamos com a situação favorável das contas externas, com as exportações batendo recordes sucessivos é porque uma política séria vem sendo posta em prática há vários anos, pois no comércio internacional não há improvisação e nada acontece por acaso. Se o governo Lula colhe, hoje, os bons frutos é porque alguém plantou, no passado. Da mesma forma, o que plantarmos hoje colheremos no futuro. O que o povo brasileiro poderá esperar do seu futuro econômico e social se a moeda brasileira for mantida artificialmente valorizada, se os juros altos não puderem cair por causa dos gastos públicos fora de controle (a maior parte para favorecer os "companheiros" da "nomenklatura" petista e para fins tipicamente eleitoreiros), se a voracidade e a sanha arrecadatória de impostos não forem domadas, se as fábricas continuarem a ser fechadas, se o setor agropecuário continuar a recuar, se permanecer este clima nitidamente hostil ao investimento e à produção?