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Artigo

Os riscos da sociedade imediática

Não sei se o neologismo já foi utilizado e se não o tiver sido, reivindico a prioridade: uma sociedade imediática é aquela que é guiada pelo imediato e pelo midiático (ou mediatico na sua grafia original em inglês). Acredito que o neologismo define bem esses dois traços cada vez mais presentes na sociedade contemporânea: a busca da satisfação imediata, a impaciência, a falta de tempo para refletir, pensar duas, dez, cem vezes a respeito do que fazer e menos ainda de calcular as consequências do que se faz; e a busca dos holofotes, do reconhecimento público, da celebridade instantânea a qualquer custo.

O episódio mais recente, mas longe de ser único, é a história de uma pessoa que postou numa rede social um comentário a respeito dos maus-tratos com os animais do Jardim Zoológico, que estariam passando fome e dependendo de vaquinhas organizadas por funcionários para comprar a comida do leão (as vaquinhas seriam obviamente no sentido figurado, pois se o fossem no literal, o leão estaria satisfeitíssimo...). Dito e feito: em poucas horas, mais de oito mil almas bondosas manifestaram sua indignação na mesma rede social por tanta crueldade.

Acontece que a informação era falsa: a pessoa que realizou a postagem agiu de maneira irresponsável ao repercutir algo que – segundo ela – ouviu dizer. Mas ainda se encheu de razões achando que nada fez de errado e que simplesmente exerceu seu direito de se manifestar sobre qualquer assunto.

O caso, em si, é risível e a prefeitura municipal rapidamente desmantelou a farsa, prometendo interpelar a autora da postagem inverídica. Mas, pense bem o paciente leitor, no potencial disruptivo que informações falsas, exageradas, inventadas ou distorcidas podem ter sobre a vida das pessoas. Hoje é o leão que não estaria se alimentando dignamente, amanhã pode ser uma acusação mais séria contra alguém, condenado previamente a tentar, inutilmente, desmanchar o imbróglio.

Já tivemos várias demonstrações do poder de difusão viral das redes da internet. Os pobres moradores da Praça da Espanha se veem às voltas periodicamente com um "réveillon fora de época", convocado pelas redes, que concentram milhares de pessoas em um lugar em que elas não cabem, deixando um rastro de bebedeiras, vômito, urina, jardins pisoteados e patrimônio público danificado, em nome de uma suposta "liberdade de reunião". O dia seguinte? Ora, o dia seguinte é para inventar alguma nova performance midiática (ou imediática).

A nossa sorte é que neste país tropical, abençoado por Deus, ninguém leva nada a sério por muito tempo e tudo se desmoraliza rapidamente e as redes não serão exceção. Aliás, o que aconteceu outro dia com o tal "toplesslaço", onde oito mil cariocas desinibidas prometeram tirar os sutiãs na praia para manifestar sua indignação contra a repressão da liberdade individual? Na hora, apareceram dez madames de seios de fora e oito mil curiosos, doidos para curtir a cena.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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