O presidente Jair Bolsonaro durante reunião para entrega da medida provisória do Auxílio Brasil ao presidente da Câmara, Arthur Lira.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O governo federal apresentou neste mês de agosto a proposta do novo Bolsa Família, que recebeu o nome de Auxílio Brasil. Um ponto que chamou muito a atenção é que o governo quer permitir que até 30% do valor do benefício possa ser descontado na fonte para abater empréstimos consignados.

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Em um primeiro momento, essa medida pode parecer justificada, pois parte do princípio de que outras pessoas têm esse direito. Contudo, existe um grande risco por trás da medida, pois esse é um valor prioritariamente direcionado para tirar as pessoas da pobreza e subsistência; ao possibilitar a utilização para empréstimos, perde-se essa finalidade.

A utilização desse valor – projetado para ficar na casa dos R$ 300 – pelas famílias deve ser muito bem planejado para que elas realmente saiam da pobreza. No entanto, ao disponibilizar essa possibilidade de utilização, sem que a pessoas tenha acesso a informações de educação financeira, o risco de descontrole é muito grande.

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O crédito consignado, para muitos, é um grande auxílio nas finanças, mas para outros é um grande problema, principalmente em tempos de crise financeira e pandemia. Essa modalidade de empréstimo desconta as parcelas diretamente no holerite. O lado positivo é que isso faz com que os juros sejam menores, já o lado negativo é que se tem uma dificuldade muito maior em negociar em momentos extremos.

Caso esse benefício seja aprovado, resta ao beneficiário do programa que está passando por dificuldade buscar entender o porquê dessas dificuldades e evitar utilizar esse valor de forma irresponsável, comprometendo as finanças no futuro.

Os problemas relacionados ao crédito consignado, contudo, existiam antes mesmo dessa proposta do governo, sendo que esse modelo de crédito estava crescendo muito, tornando-se uma das principais formas de endividamento da população. O resultado são recordes de inadimplência; portanto, é preciso tomar muito cuidado na hora de utilizar essa linha de crédito. Diante da crise ainda há muitos trabalhadores querendo tomar essa linha de crédito, o que exige uma série de orientações.

É importante, por exemplo, conhecer a sua real situação financeira antes de tomar qualquer crédito, fazendo um diagnóstico financeiro, descobrindo para onde vai cada centavo do dinheiro durante o mês e registrando as dívidas caso existam. Este empréstimo e os problemas financeiros não podem afetar a busca da família por uma saída para seus problemas, pois será muito mais complicado pagar as contas tendo à disposição valores ainda menores. Isso porque o custo de vida deverá ser reduzido em até 30% do ganho mensal, pois o pagamento desse empréstimo reduzirá o seu ganho mensal diretamente no salário ou no benefício.

Também é possível fazer a portabilidade deste crédito caso o beneficiário encontre taxas de juros mais baixas. Para trabalhadores assalariados, o caminho é buscar a área de Recursos Humanos da empresa; para os aposentados, as possibilidades são inúmeras, sendo preciso pesquisar.

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A opção do crédito consignado é muito usada para quitação de cheque especial, cartão de crédito e financeiras, porém a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento. A linha de crédito consignado, portanto, pode ser bem utilizada, mas não deve fazer parte da rotina do beneficiário. Sua utilização deve ser pontual e ter um objetivo relevante.

Por fim, tem sido comum o empréstimo do nome a terceiros por parte de beneficiários, aposentados e até mesmo funcionários, mas este procedimento é prejudicial a todos, e por isso deve ser proibido.

Reinaldo Domingos, PhD em Educação Financeira, é presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, e está à frente do canal Dinheiro à Vista.