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Essa história da Grécia e da crise na zona do Euro está se parecendo mais e mais com a fábula dos Três Porquinhos: enquanto os dois porquinhos artistas se deliciavam, cantavam e dançavam, o porquinho Prático economizava e construía sua casa à prova de lobos e de intempéries. Quando o lobo veio, os porquinhos artistas foram buscar refúgio onde? Adivinhou presciente leitor.

O porquinho Prático, é claro, é a Alemanha, que 20 anos atrás realizou o prodígio de reunificar o país, gastar mais de 100 bilhões de marcos, tomar o dinheiro emprestado, pagar em dia e tocar a vida para frente. Os porquinhos artistas europeus se esbaldaram de tomar dinheiro emprestado e dissipar boa parte fazendo coisas adiáveis, ou que não geram renda permanente, como a Grécia com sua magnífica Olimpíada de 2004, ou simplesmente pagando suas contas acumuladas com mais empréstimos.

Os bancos atenderam com gusto e avidez essas excentricidades, pois queriam multiplicar seus lucros de qualquer maneira e acreditaram que, quando o lobo mau da insolvência chegasse, todo mundo sairia em seu socorro para evitar uma "crise sistêmica". Agora, a conta chegou, já comentei aqui e vou comentar novamente: o que faz a crise mais séria é que bancos internacionais, especialmente os franceses e espanhóis estão atolados até o pescoço em papéis da Grécia e se esta resolver não pagar, o sistema bancário europeu quebrará, pois não há dinheiro suficiente para fazer provisões para as perdas que isso provocaria. E com a integração mundial do sistema financeiro, ninguém é capaz de imaginar até onde esses efeitos chegarão, pois um banco de qualquer país do mundo pode ter comprado um título de um outro banco que não tem um tostão na Grécia. Mas se esse último for afetado indiretamente,o impacto se propagará como uma pandemia.

Agora, surge a solução salvadora que é refugiar-se na casa sólida do porquinho Prático. Todos os líderes europeus se voltam para a Alemanha pedindo que ela financie a limpeza da bagunça financeira continental e para isso pensaram até num esquema criativo: pegam o Banco Central Europeu e fazem-no emitir Eurobonds, títulos garantidos por todos os países da zona do Euro para financiar os países devedores, que com esses recursos pagarão os bancos credores e os salvarão. Frau Merkel não quer nem ouvir falar no assunto porque sabe perfeitamente quem irá pagar a conta no futuro próximo. Já o recém-empossado presidente francês insiste na ideia, com forte apoio dos porquinhos artistas por razões óbvias.

O pior é que a alternativa a tudo isso é péssima: se a Grécia resolver abandonar o Euro e voltar ao dracma como moeda nacional, centenas de bilhões de Euros ficarão em um limbo em que ninguém saberá quanto valem. E o sistema quebrará da mesmíssima forma.

Pensando bem, essa história já ultrapassou a dos Três Porquinhos e ficou parecendo com o conto de Mark Twain, Uma Narrativa Medieval, que envolve um príncipe que na realidade era princesa (se fosse hoje em dia não despertaria qualquer curiosidade, mas na Idade Média ainda era um escândalo) e um reino que só permitia que homens sentassem no trono sob pena de imediata decapitação (hoje em dia, seria acusado de homofobia). A história se complica tanto que, ao final, Twain suspende a narrativa e sugere: "Caro leitor: tentei de todas as maneiras resolver essa trama, mas não consegui. Portanto, resolva você mesmo e finalize o conto". Sugiro que o caro leitor pense em uma solução por conta própria para esse imbróglio que descrevi, pois não sou capaz de dar nenhum palpite útil a respeito.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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