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Opinião do dia 2

Os valores nas escolas

Falar de valores nas escolas é denunciar a ausência deliberada e displicente de um aprendizado sistemático daqueles comportamentos que formam a personalidade de cada aluno, preparando-o para ser um verdadeiro cidadão. Deveria ser um aprendizado de bons hábitos, pelo acompanhamento diuturno de como cada aluno vem se comportando, não só em relação ao rendimento escolar, mas, sobretudo, no relacionamento social.

Pois é através de suas reações e de sua consciência que o ser humano procura encontrar os fundamentos que justificam tudo o que observa e experimenta, de forma a poder dar sentido aos inumeráveis problemas que enfrenta, todos cruciais diante de uma realidade que ele aparentemente tem dificuldades em aceitar.

Não obstante tais desajustes prévios, pela nossa mente somos acossados pelos apelos da verdade, e pela nossa atuação, somos perseguidos pela ideia do bem. A verdade e o bem devem caminhar juntos, mas isso ocorre só depois de uma longa luta, quando conseguimos superar os seus aparentes contrastes. Assim, todo esforço humano deve ser no sentido de que, consciente da verdade, pratiquemos boas obras, pois o bem é o fundamento de tudo, conforme concluiu Platão!

Fica assim estabelecido que o saber, qualquer que ele seja, deverá estar sempre a serviço do bem, condição sem a qual qualquer conhecimento pode se tornar prejudicial e desumano, pelos males que ele poderá com certeza provocar. É dessa forma que a ética se torna mais importante do que a ilustração (conhecimento), o que deveria ser o princípio básico de qualquer pedagogia.

Assim, tais aprendizados éticos poderiam ser desenvolvidos a partir de alguns temas: como o que são valores e como eles se relacionam com a ideia do bem; quais são os valores fundamentais: a felicidade, o dever, o prazer, a justiça, o amor; seu escalonamento hierárquico e as preferências pessoais; por que os bens estão no mundo dos sentimentos e, aparentemente, fora do mundo da Natureza; como lidar com as práticas comuns de intolerância, agressão, falsidades, mentiras, rancor e ódio; quais as vantagens em sermos pessoas honestas, lutadoras e sinceras; e por que a escolha dos valores condiciona nosso destino.

Desenvolvidos sob a forma de exercícios, seminários e discussões dirigidas, os temas propostos serão de grande valia pedagógica e, assim, estará a escola realmente contribuindo para a formação ética de nossa gente.

Ora, ensinar valores é fundamentalmente criar hábitos a partir da prática reiterada de virtudes (Aristóteles), como deveria ocorrer no ambiente familiar e como agora as escolas são chamadas a desenvolver, pela crise que afeta hoje nossas famílias, desagregadas pela mo­­dernidade, as separações e os contrastes culturais. Em assim sendo, quem salvará nossas próximas gerações, incutindo nelas valores pelos quais valha a pena esforçar-se por viver?

Eis, portanto, delineada nossa crise, refletida na ausência consentida de uma política educacional que pudesse promover uma revolução inovadora no campo dos bons costumes, aqueles que ensinariam os jovens a promover o bem em seus atos: renúncia aos exageros, fuga das drogas, valorização da vida, pureza de sentimentos, amor à verdade. Pelo contrário, tudo hoje na vida social contribui para destruir a ética que fundamenta a convivência: o excesso de informações, o de­­sencontro das teorias, os maus exemplos, a mídia que divulga apenas os modismos e assim vai... Os efeitos já são visíveis e nos assusta por suas dimensões e a incapacidade da sociedade e do Estado em inverter a entropia nefasta de tanta desagregação e violência.

Antonio Celso Mendes é professor da PUCPR e pertence ao Círculo de Estudos Bandeirantes

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