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Fim de ano é tempo de refletir sobre o que estamos fazendo com nossas vidas. É bom momento para balanço dos atos passados e projeção do que faremos no futuro. Conquanto tenha feito conquistas maravilhosas no campo da ciência e da tecnologia, a sociedade ainda se debate com a questão proposta por Sócrates, 400 anos antes de Cristo: qual o sentido da vida e como viver?

O homem é o único animal que sabe que vai morrer e, quando descobriu esse fato, surgiu a pergunta filosófica: como viver? Caetano Veloso, em uma de suas canções, diz que “viver não é preciso; navegar é preciso”. Mas essa expressão não é dele – é do grande poeta português Fernando Pessoa, e quer dizer que alguém pode dar fim à própria vida, mas, em resolvendo viver, é preciso navegar, fazer escolhas e agir.

A busca de significado e de uma razão por que viver não é somente uma questão filosófica

Em artigo anterior, citei o psiquiatra Viktor Frankl, que, após ter a família exterminada, perdido o patrimônio e sido torturado em campos de concentração, retornou a seu consultório em Viena e, a partir de seus estudos e pesquisas, publicou o livro Em Busca de Sentido. Na obra, ele menciona que os prisioneiros de guerra, embora submetidos a castigos e torturas, não se suicidavam, e conclui que assim agiam porque suas vidas tinham sentido e eles nutriam a esperança.

Há uma corrente da filosofia chamada niilismo (cujos expoentes são Sartre, Nietzsche e Durkheim), para a qual após a morte só existe o nada; logo, a vida não tem sentido. Outra é chamada absolutismo (representada por Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, por exemplo), para a qual há Deus, a morte não é o fim e, por isso, há razão por que viver. A terceira corrente, à qual Viktor Frankl pertence, é chamada relativismo, para a qual a vida tem sentido e significado... se você der-lhe um.

Para os relativistas, o sentido da vida deve ser buscado pelo próprio indivíduo, com ou sem Deus. E o dr. Frankl afirma que o vazio existencial vem da ausência de sentido. A busca de significado e de uma razão por que viver não é somente uma questão filosófica, mas também fisiológica e social. Às vezes, os neuropeptídios, ou os traumas, desorganizam nosso cérebro e nos lançam na depressão, esse distúrbio mental que leva à falta de vontade de viver e lança muitos ao precipício do suicídio.

Quanto ao ambiente social, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), houve 278.839 assassinatos no Brasil nos cinco anos entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015 – média mensal de 4.647 vítimas. Nesse mesmo período, a Síria, em sangrenta guerra civil, teve 256.124 pessoas mortas, média de 4.493 por mês. Ou seja, aqui se mata mais que na apavorante guerra síria.

Com tanta violência, tanta corrupção, tanta degeneração da vida, cabe indagar como é possível viver uma vida plena de sentido em uma sociedade arruinada nos valores e nas relações entre as pessoas. As saídas que se apresentam são: suportar tudo calado; ir embora do país; ou não se conformar e lutar pela transformação social.

Para a maioria dos 206,6 milhões de habitantes do país, a opção de ir embora não existe. Suportar tudo calado significa desistir e viver com medo. Então, a solução é não se conformar, e reagir. Resta saber como. Muitas pessoas têm vontade de lutar, mas não sabem por onde começar nem que instrumentos usar. O fato é que a violência urbana, a deterioração social e o medo ajudam a solapar a busca de um sentido individual de existência.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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