Seguindo a receita de Antonio Gramsci, a esquerda brasileira conseguiu em menos de 40 anos um feito notável, sem paralelo, talvez, no Ocidente democrático: impôs a sua “ciência”, os seus valores e a sua agenda política e ideológica a todo o sistema educacional, subordinando-o ao seu projeto de poder. Nessa atmosfera de sectarismo mais ou menos disfarçado, alunos e professores que não seguem a cartilha esquerdista são estigmatizados, marginalizados e perseguidos; vocações científicas são abafadas; pais assistem perplexos à usurpação – pelo governo, pelas escolas e pelos professores – da sua autoridade religiosa e moral sobre os próprios filhos; colégios de elite se transformam em incubadoras de black blocs. O pluralismo sucumbe. O dogmatismo prospera. A qualidade desaba.
Uma vez conquistada, a hegemonia é mantida graças ao mecanismo de retroalimentação do sistema, já que parte dos estudantes que saem das universidades retorna ao ensino fundamental e médio para exercer a docência e fazer a cabeça dos alunos. Segundo pesquisa do Instituto Sensus, 80% dos professores da educação básica reconhecem que o seu discurso em sala de aula é politicamente engajado.
O petismo, como se sabe, é o principal receptador desses furtos ideológicos. Já o era antes de chegar formalmente ao poder, e continuará a sê-lo por muito tempo ainda, se nada for feito. O impeachment – que atende nas salas de aula pelo nome de “golpe” – serviu apenas para inflamar o zelo da militância.
O petismo é o principal receptador desses furtos ideológicos
“Doutrinação”, uma falácia ideológica
Não obstante o slogan do aludido projeto de lei – “Escola Sem Partido” – seja simpático, a proposta normativa não para em pé
Leia o artigo de Guilherme Alfredo Nostre, doutor em Direito PenalComo debelar esse câncer que destrói a educação e ameaça a democracia? Antes de tudo, é preciso compreender a natureza gramsciana do fenômeno, a começar pela inexistência de um comando centralizado, de caráter político-administrativo, cujas diretrizes seriam executadas por obedientes professores. Se existisse, bastaria substituí-lo, e o problema estaria resolvido. Mas não é assim que funciona. O agente do processo é o burocrata – em especial, aquele professor que aprendeu com Paulo Freire que não existe neutralidade e que sua missão é transformar os alunos em réplicas ideológicas de si mesmo.
Além disso, há o fato de a quase totalidade do trabalho de cooptação ser realizado entre quatro paredes e a portas fechadas, o que inviabiliza, na prática, o controle externo da atividade. E, para piorar, as vítimas desses abusos ou não se reconhecem como tais ou se calam para não sofrer perseguições.
Diante dessa realidade, o Movimento Escola sem Partido elaborou e vem promovendo um anteprojeto de lei que prevê a afixação de um cartaz com deveres do professor – que poderiam ser resumidos em não se aproveitar da relação desigual entre docente e aluno para impor, promover ou favorecer as próprias ideologias, nem prejudicar quem delas discorde – em todas as salas de aula do ensino fundamental e médio. O objetivo é dar ao aluno os meios de que ele necessita para se defender dos abusos, já que dentro da sala de aula ninguém mais poderá fazer isso por ele.
Contra a proposta, porém, levanta-se uma ruidosa e bem articulada parcela do professorado, geralmente ligada a sindicatos controlados pelo PT. Ela reivindica nada menos que o direito de continuar a fazer a cabeça dos alunos e a usá-los como massa de manobra a serviço dos seus próprios interesses.
Mas eles não conseguirão impedir que ele avance. Em breve, a nova mentalidade se espalhará na educação básica; de lá, será levada na mochila dos estudantes para dentro das universidades, retornando ao ensino fundamental e médio, agora pelas mãos dos professores. As faculdades serão pressionadas a criar uma disciplina obrigatória de Ética do Magistério. Em menos de dez anos uma estaca terá sido cravada no coração do vampiro gramsciano que subjuga a educação brasileira.