No Brasil de nossos dias ficou mais fácil entender o que disse um de nossos poetas bissextos: "Aborrecem-me os acontecimentos." Mas seria exagero dizer que o Plano de Aceleração da Economia (PAC) anunciado pelo presidente Lula seja igualmente mais um acontecimento aborrecedor. Afinal, em um governo marcado por um pétreo imobilismo, qualquer anúncio de movimento pode ser animador.

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É verdade que nesses quatro anos de lulopetismo outros anúncios hiperbólicos foram vocalizados, inclusive um que prometia um "espetáculo de crescimento", que não se materializou, nem em espetáculo e muito menos em crescimento. Tem razão o cientista político Leôncio M. Rodrigues, que há décadas assiste à nossa fatigante carnavalização política: "Foram quatro anos de teatro". Não houve estratégia, não houve projeto nacional, não houve coordenação; ao revés, o que se viu foram desastrosas colisões, éticas e administrativas. O país não cresceu mais que míseros dois e tanto por cento.

O PAC contempla cerca de 360 objetivos que o governo considera básicos para a grande propulsão da economia e para cravar a marca dos 5% do PIB já a partir do próximo ano. Há décadas que o nosso PIB está praticamente inelástico, mas nunca como nesses últimos quatros anos as condições econômicas mundiais foram tão esplendidamente favoráveis.

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Claro que é o que todos os brasileiros querem e precisam, mas seria um aposta arriscada jogar todas as fichas no êxito do PAC. É difícil prever se ele vai ou não dar certo (principalmente se a previsão for de economista), pois a economia tem sido tantas vezes mais governada pelas variáveis que pelas invariáveis e os acidentes de percurso têm sido mais freqüentes que supunha a nossa vã filosofia. (Como disse aquele atilado assessor de Lula: profetizar é sempre perigoso, principalmente sobre o futuro).

Há várias condicionantes que incidem sobre o PAC – aliás como em qualquer plano de governo – e uma delas pode ser fatal para o seu fracasso. Toda programação se realiza em duas etapas: sua preparação e sua execução. Fazem parte da primeira um diagnóstico correto, a escolha dos objetivos e a determinação dos meios necessários para que seus fins sejam alcançados; e da segunda, a implantação dos mecanismos requeridos e a escolha de seus operadores, que devem ser eficientes e também criativos. O sucesso do Plano de Metas do governo JK só foi possível porque seus operadores – liderados por Lucas Lopes – foram supinamente eficientes e talentosos. O problema é que no governo Lula não se vislumbra nenhum grupo tecnoburocrático de operadores (ou de valorosos "companheiros") que possam conduzir o programa sem graves riscos de derrapagens fatídicas. O PAC pode ser apenas mais um inquilino de nossa gaveta de sonhos.

Quem leu "Presença do Brasil", ensaios do ex-governador Bento M. da Rocha Neto, há de se lembrar de seu ceticismo quanto à transposição do que está no papel para a realidade. Já os mais cultivados, haverão de se lembrar do poema de T.S. Elliot, na tradução insuperável de Vinicius de Moraes:

Entre a idéia/ E a realidade /Entre o movimento /E o ato/ Cai a sombra...

Entre a concepção/ E a criação / Entre a emoção/ E a resposta/ Cai a sombra...

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Entre a potência/ E a existência/ Entre a essência/ E a queda/ Cai a sombra...

Assim será o fim do mundo........./ Não com um estrondo – com um berro.

Pessimismo? Nem tanto em se avaliando os antecedentes de nossa história recente. Ah! sim, também estarão no filme as esquerdas tupiniquins que adoram colocar problemas nas soluções.

Luiz Roberto N. Soares é ex-Secretário de Cultura do Paraná e ex-deputado estadual.