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Pacificação da direita pós-eleição é presságio da derrota da esquerda em 2026

Nunes e Tarcísio
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao lado do prefeito reeleito na capital, Ricardo Nunes (MDB). (Foto: EFE/Sebastião Moreira)

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A direita brasileira saiu vitoriosa nas eleições de 2024. O desafio agora, visando 2026, é organizar e pacificar as diferentes correntes da direita para consolidar um projeto que impeça a esquerda de retomar o poder. O cenário político atual revela uma fragmentação dentro do campo conservador, com novas lideranças e vertentes em disputa. A pacificação é essencial para que a hegemonia da direita, demonstrada nas eleições municipais, possa se estender em nível nacional e reflita nas eleições de 2026.

A participação das lideranças da direita na disputa municipal evidenciou essa fragmentação. O ex-presidente Jair Bolsonaro mostrou força política ao apoiar candidaturas vencedoras em 36 cidades. Embora discreto, ele apoiou a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, após ensaiar apoio inicial a Pablo Marçal (PRTB), que não avançou, mas ampliou as opções dentro da direita.

A direita tem uma oportunidade única nas mãos: unir-se em torno de um projeto coeso e pragmático, capaz de consolidar sua hegemonia para 2026. O fortalecimento da participação popular será essencial não apenas para garantir votos, mas também para evitar o crescimento da abstenção

Por outro lado, a derrota de Fred Rodrigues (PL) em Goiânia, onde Bolsonaro fez campanha, trouxe holofote à divisão interna, indo de encontro com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que emergiu como líder conservador com a vitória de Sandro Mabel (União) no estado. Outro nome de peso foi Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que com uma postura conciliadora foi decisiva para a vitória de Nunes contra Guilherme Boulos (PSOL) e se cacifa como um potencial candidato à Presidência em 2026.

Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná, também teve um desempenho acima da média sendo o governador que mais elegeu prefeitos, liderando a eleição de prefeitos em Curitiba e Londrina, se cacifando como uma nova liderança de direita no Brasil. Na capital paranaense, o segundo turno foi disputado entre Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB), refletindo a diversidade e complexidade do campo conservador. Os resultados colocam Ratinho Jr. como um dos nomes para 2026, defendendo o que chamou de “direita popular” que combina liberdade econômica, defesa da propriedade privada e valores conservadores com responsabilidade social.

O movimento em direção à moderação foi perceptível nas eleições. Embora o eleitorado tenha demonstrado uma inclinação conservadora, ele busca lideranças pragmáticas, que equilibrem pautas econômicas e sociais. A esquerda, por sua vez, sofreu um novo revés em 2024, conquistando apenas 752 prefeituras, 13% a menos que em 2020. Nem no Nordeste, onde Lula historicamente possui forte influência, a esquerda prevaleceu, tendo o PT mantido apenas uma capital, Fortaleza.

Os partidos de direita e centro-direita consolidaram sua força, conquistando 82% das 5.519 prefeituras, incluindo 11 das 26 capitais, impondo uma derrota muito significativa à esquerda. Com a hegemonia demonstrada nas eleições municipais, o próximo passo da direita deve ser o de unificar suas correntes e construir uma candidatura competitiva para enfrentar uma eventual tentativa de reeleição de Lula em 2026.

A fragmentação atual da direita pode se vista como uma oportunidade, desde que haja articulação e convergência entre líderes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Jr., entre outros governadores, além de nomes emergentes como Deltan Dallagnol e Nikolas Ferreira. A partir de agora será crucial manter uma postura moderada para evitar a rejeição enfrentada por candidatos mais radicais em 2024, que aliado ao enfraquecimento da esquerda colocam a direita em uma posição favorável para 2026.

Outro fator que deve estar no radar para a próxima disputa deve ser a participação eleitoral. No Paraná, por exemplo, a abstenção foi significativa. Em Curitiba, 37,3% do eleitorado (502.439 pessoas) não votaram e/ou votaram nulo/branco — um número superior à votação de Cristina Graeml. Em Londrina, 31% dos eleitores (144.521) não compareceram, e em Ponta Grossa, o índice foi próximo a 27%. Na cidade de São Paulo, 31,54% dos eleitores (2.940.360) se abstiveram — superando a votação de Boulos, que recebeu 2.323.901 votos.

A direita tem uma oportunidade única nas mãos: unir-se em torno de um projeto coeso e pragmático, capaz de consolidar sua hegemonia para 2026. O fortalecimento da participação popular será essencial não apenas para garantir votos, mas também para evitar o crescimento da abstenção, que pode minar as chances de impedir que a esquerda se perpetue no poder. Como bem alertou Franklin D. Roosevelt, "democracia não pode ter sucesso, a menos que aqueles que expressam sua escolha estejam preparados para escolher sabiamente".

Fabio Oliveira é especialista em Gestão Pública e deputado estadual.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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