Precisamos falar de transformação digital. Ou melhor, precisamos traduzir transformação digital (TD) para sua expressão mais completa e abrangente. E ela não tem a ver apenas com tecnologia, mas principalmente com cultura e atitude. A verdadeira transformação digital acontece à medida que toda organização assume uma cultura digital e a incorpora como sua em todos os níveis de atividade, principalmente com a adoção de um novo modelo de gestão que olhe para o aluno como sujeito singular.
O professor Fernando Henrique Almaraz Menendez e seus colegas da Universidade de Salamanca dizem que a transformação digital tem implicações em sete níveis nas instituições de ensino superior: a cidade universitária, a infraestrutura de tecnologias de informação e comunicação, a administração universitária, a docência, a pesquisa e transferência de resultados, a ação de marketing da universidade e a comunicação institucional. E pode-se adicionar uma oitava dimensão: a governança do próprio processo de TD.
A mudança organizacional ligada à TD é realizada por meio de tecnologias digitais e de modelos de negócios com o objetivo de melhorar o desempenho estratégico e operacional da organização. Ela diz respeito a processos de transformação organizacional, de construção de novas competências e modelos, utilizando-se de tecnologias digitais de modo profundo e estratégico.
A TD no ensino superior tem sido altamente influenciada por políticas governamentais e estratégias de desenvolvimento institucional em nível global. Mas no contexto do ensino privado, além dessa influência governamental, com a inserção de novas tecnologias tanto para a aprendizagem quanto para os serviços de apoio, o ensino superior enfrenta o desafio da competitividade e relevância perante outras instituições e players educacionais.
A pandemia da Covid-19 nos levou a consolidar essa transição no sentido mais amplo. Isso contempla a inclusão de ferramentas digitais para professores e estudantes, assim como o desenvolvimento das suas capacidades. Buscamos quem tem uma visão ampliada sobre aprendizagem, que sabe usar tecnologias digitais na educação para ofertar novas situações, caminhos e itinerários aos alunos, em que eles possam fazer um trabalho significativo de construção de conhecimento.
A tecnologia não é fim, é meio. Ela deve estar a serviço de uma educação que desenvolve competências relevantes. Quando falamos disso, falamos em mudar nosso modelo de atuação educacional. A crise exigiu uma nova organização das nossas disciplinas e de nosso trabalho acadêmico usando tecnologia.
Nossos estudantes precisam ter acesso ao conhecimento antes das aulas, para se prepararem. E os encontros ao vivo devem privilegiar a conversa e a construção coletiva de conhecimento. Essas ocasiões são vitais para a abordagem de competências técnicas e também socioemocionais, essenciais hoje para o sucesso em qualquer carreira.
Além das videoconferências em que desenvolvemos o conteúdo das disciplinas, o ambiente virtual de aprendizagem também deve ser atualizado constantemente para incluir novas estratégias, como laboratórios virtuais, aplicativos que trabalhem engajamento e projetos on-line.
Aprendemos em alta velocidade, nesses meses da pandemia da Covid-19, o quanto é enriquecedor o contato remoto com os alunos no momento ao vivo, durante as aulas síncronas. E todos os nossos movimentos são feitos a serviço do processo de aprendizagem, para uma oferta de educação que entregue possibilidades de construir competências e conhecimentos relevantes.
Nossa visão é de preparar os alunos para o exercício pleno de sua cidadania, como pessoas e como profissionais. E tudo o que fazemos também contempla uma oferta de valor imprescindível: observamos quais as demandas que o mundo do trabalho apresenta para a formação dos estudantes. É preciso buscar alinhamento forte com o mercado, trabalhar com a formação que tenha consonância e dê respostas às necessidades de formação do mundo do trabalho.
O ensino superior começa a dar os primeiros passos para usar a base de dados dos estudantes – respeitadas todas as boas práticas de proteção – para fazer ofertas mais adequadas a partir do desempenho que cada um tem na vida acadêmica.
Estamos empenhados nesse trabalho, porque entendemos que o futuro da educação também está ligado à capacidade das instituições de fazerem proposições de valor mais adequadas, que sejam capazes de personalizar o ensino em benefício do futuro profissional, do mercado de trabalho e de toda a sociedade.
Adriana Karam é presidente do Grupo Opet, reitora do Centro Universitário UniOpet e pesquisadora e implementadora de inovação na educação.
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