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Em maio de 2007, o Papa virá ao Brasil, a fim de participar da Conferência Episcopal da América Latina (Celam), cujo tema central focalizará Religião e Sociedade. Na 2.ª, 3.ª e 4.ª Conferências, respectivamente realizadas em Medellín (1968), Puebla (1979) e San Domingo (1992), os papas atravessaram o oceano e participaram das referidas assembléias-gerais da Celam.

No discurso inaugural de San Domingo, falando ao plenário, João Paulo II lembrou que a evangelização dos 500 anos só terá pleno significado se vier acompanhada de um solene compromisso dos bispos, sacerdotes e fiéis. Compromisso que não se limita apenas à evangelização, mas requer uma "nova evangelização": "nova em seu ardor, nova em seus métodos e nova em suas expressões". Tema que se tornou uma característica de todo o seu Pontifícado.

Mas por que a evangelização do passado não foi suficiente para a América Latina? Quais suas falhas? Quais suas deficiências? Seriam elas do Evangelho? Aqui, não será fora de propósito lembrar a advertência de Paulo aos Gálatas: "Não existe outro evangelho, ainda que venha a ser pregado por um anjo baixado do céu" (1,8). Esta advertência deve ser definida como um alerta de que o erro não está no evangelho, mas no modo de aplocá-lo aos povos americanos.

Certamente, Deus quer que os latino-americanos de hoje, bem como os ontem, encontrem no evangelho a maturidade da plena liberdade. Deus exige, todavia, uma adesão fiel e sincera ao dom da fé oferecida. Esta provavelmente foi a parte insuficiente da primeira evangelização. Numa época de pluralismo, será necessário insistir que Jesus é o marco central do único evangelho e que a salvação passa exclusivamente pela loucura da Cruz de Cristo. Mas a liberdade cristã permite à cada geração, tribo ou nação, compor suas obrigações, inclusive em matéria de religião. Igualmente será necessário reavaliar, sempre de novo, essas regras e obrigações para ver se elas encarnam a fé salvadora em Cristo e o amor fraterno, fulcro pétreo de toda a moral cristã.

O Papa convidou os cristãos da América Latina a uma séria revisão de vida, onde a motivação fundamental não se prende à mera observância de ritos, possivelmente importados. Será necessário assumir um novo compromisso que envolve um testemunho mais cristão, mais responsável e mais criativo, mais oportuno e acolhedor. Eis porque, além de novo ardor, novos métodos e novas expressões, se requer uma nova postura cristã, um novo modo de sentir, pensar e agir do evangelizador.

Esta nova postura inclui a promoção humana e aculturação da fé. Também está em jogo o acesso às massas sobrantes, aos excluídos da sociedade e, possivelmente, também excluídos da pastoral sócio-religiosa. Quanto ao problema da inculturação na fé, vem à tona a cultura dos índios, a cultura da raça negra e a emergente cultura da modernidade.

Pelo que vimos, os 500 anos de evangelização não atingiram o coração dos habitantes do Novo Mundo. A evangelização, trazida pelas naus de Colombo e Pedro Álvares Cabral, pouco contribuiu para uma equilibrada distribuição das terras e equilibrada cidadania. Não evitou a corrupção nos serviços públicos, nem se preocupou com a violação dos direitos humanos. As referidas omissões certamente contribuíram para que se instalassem regimes de violência, discriminação racial e social, seqüestros, roubos e assassinatos.

Colhe-se, pois, a impressão de que a primeira evangelização favoreceu atitudes devocionais e intimismo humano, com prejuízo do compromisso religioso-social. O evangelho mais serviu como critério de cultura religiosa e menos como fomento de maturidade na fé, testemunho de justiça, verdade e amor.

A "nova evangelização" a ser implantada na América Latina tem suas raízes no Vaticano II, encarnada na realidade humana, no diálogo, na partilha, na co-responsabilidade desligados do poder temporal, da majestade e mais comprometida com a liberdade do homem todo e de todos os homens. A América Latina anseia por uma evangelização com rosto de pobre e servidora, profundamente comunitária e decididamente portadora de esperança.

No "continente da esperança", a evangelização jamais poderá ser vista como inimiga do progresso e da liberdade humana; não poderá servir de ameaça ou de proselitismo. Da Igreja se espera o testemunho da verdade, do serviço e da luz em meio às trevas da cultura da morte, fruto de um secularismo fastidioso e dum relaivismo reducionista.

"A nova evangelização", preconizada pelo Papa João Paulo II, tem seu referencial ético em Cristo, "em quem o pai depositou todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (CI 2,3). Guiados por esses "tesouros", desejamos construir uma sociedade mais fraterna, marcada pelos valores da gratuidade e do serviço aos nossos irmãos e irmãs.

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