Muitos momentos felizes e saudáveis da infância podem e devem ser de interação com amiguinhos ou familiares ao ar livre. Essa convivência propicia segurança afetiva, bem-estar psíquico, maior rendimento escolar e desenvolvimento de habilidades motoras. Os benfazejos raios solares metabolizam a vitamina D, (promove a absorção do cálcio, nutriente necessário para o crescimento dos ossos) e são terapêuticos contra a tristeza e depressão.
Custa pouco, quase nada, levar os pimpolhos aos parques da cidade ou chácaras para jogar bola, andar de bike ou a cavalo, churrasquear, empinar pipa, levar o bichinho de estimação para passear, interagir com os patos e peixes ou mesmo ler e contar histórias sob árvores frondosas junto ao aprazível verde da natureza. Considere um triunfo seu filho chegando em casa cansado, suado e com um pouco de vitamina S (S de sujeira), pois robustece o sistema imunológico.
A vida adulta é permeada de frustrações e adversidades, para as quais autoconfiança e autonomia são necessárias
Esses momentos também fazem parte da tarefa de educar os filhos – a mais nobre, porém a mais difícil das missões –, e aos poucos os pais devem se tornar dispensáveis à exceção dos vínculos afetivos. A vida adulta é permeada de frustrações e adversidades, para as quais autoconfiança e autonomia são necessárias. Para o desenvolvimento da autonomia, desde pequeno delegue tudo o que a criança tenha capacidade intelectual e física de fazer, incorporando em seu cotidiano tarefas domésticas consentâneas com a idade e estimulando a ser autossuficiente em relação aos seus hábitos de higiene.
E nós, pais e mães, estamos diante de conflitos, conscientes ou não, em relação aos nossos educandos: com muita dedicação ao trabalho para prover a família, comumente a ausência é “compensada” com bens materiais e conforto. Mas será que assim agindo não estamos criando filhos hedonistas e alheios aos problemas sociais? Além disso, o quanto se deve privá-los de pequenas frustrações e de ouvir alguns “nãos”, em vista das adversidades e negativas que fatalmente encontrarão na vida adulta?
A resposta é genérica – sem deixar de ser eficaz –, mas o que deve prevalecer é a medida equilibrada entre o afeto e os limites, dando a segurança do amor, porém mantendo o controle como duas paralelas que se alargam ou se estreitam para evitar que seu rebento cometa erros irreversíveis. Simultaneamente, é importante que seja propiciada uma boa escala de valores, construída pelas palavras e pelos exemplos. Ademais, bom senso caso a caso, pois os pais que têm dois filhos ou mais aceitam – digo isso em tom de blague – que antes de eles nascerem já combinaram de um ser diferente (ou oposto) do outro, portanto não há padrões universais para bem educar.
Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)
Esportes, idiomas, atividades extraclasse são recomendados, mas até que ponto não estamos impondo uma agenda de executivo (talvez para, novamente, compensar nossa ausência) e, com isso, queimam-se etapas do seu desenvolvimento e compromete-se o seu equilíbrio emocional? E como lidar com o excesso de dispositivos eletrônicos que comprometem o sono, estudos, leituras e até mesmo a compleição física? Uma boa medida provém da Academia Americana de Pediatria, que recomenda limites para a exposição diária a todo tipo de mídia: no máximo 1 hora dos 2 aos 5 anos; 2 horas entre 6 a 12 anos; e 3 horas a partir dos 13 anos.
Com ponderação e bom senso, educar é conviver com erros e acertos – e nos inspiremos ou nos confortemos com as palavras de Sigmund Freud: “educar é uma daquelas atividades que errar é inevitável”. Não nos martirizemos querendo ser perfeccionistas, mas busquemos sempre o melhor possível. Até porque uma família perfeita não faria bem aos filhos, pois deixaria de prepará-los para um mundo inevitavelmente imperfeito.