Empresa é uma unidade econômica que reúne fatores de produção – matérias-primas, trabalho, capital (no sentido de máquinas e equipamentos) e iniciativa de alguém – para produzir bens e serviços úteis à sociedade, destinados a satisfazer necessidades da população. Para cumprir sua função, a empresa “destrói” os fatores de produção e cria bens materiais e serviços.
Na linguagem dos economistas, a empresa destrói riquezas e cria riquezas. Ela agrega valor quando cria mais riquezas (bens e serviços) do que as riquezas destruídas (fatores de produção). Um dos desafios impostos à ciência econômica foi descobrir como medir o valor das riquezas destruídas e o valor das riquezas criadas, para comparar e verificar se a empresa agregou ou desagregou valor.
Como as riquezas (ou recursos) destruídas são de diferentes espécies, não dá para somar, por exemplo, toneladas de trigo com horas de trabalho e desgaste das máquinas. Da mesma forma, as riquezas destruídas são espécies diferentes das riquezas criadas. Assim, a comparação entre as riquezas consumidas no processo produtivo e as riquezas criadas no mesmo processo somente é possível pela adoção de uma “medida de valor” única.
Uma padaria utiliza trigo, leite, açúcar, trabalho e desgaste do fogão para produzir um bolo. A atribuição de valor ao total dos fatores utilizados e ao total da riqueza produzida requer uma “medida de valor” de cada fator utilizado e de cada produto gerado. Descobrir o valor de cada coisa é uma operação intelectual somente possível pelo cálculo econômico, cuja solução é dada pelo “preço monetário” de todos os itens envolvidos.
O mercado não é perfeito. É apenas o mecanismo fundado na divisão do trabalho, no direito de propriedade e na liberdade econômica
Na sequência, surge uma pergunta: como se obtém o preço de cada item? Pense no seguinte exemplo: um pedaço de madeira pode ser destruído para dar origem a uma escultura ou uma cadeira. Digamos que o preço do pedaço de madeira seja R$ 100. Uma vez usado para fazer um produto, o pedaço de madeira desaparece, logo, não está mais disponível para gerar outro produto. Ou seja, a madeira é escassa e finita. Na grande maioria, os fatores de produção são escassos, tanto os naturais, quanto o trabalho e o capital.
A sociedade tem que decidir se usa o pedaço de madeira para produzir uma escultura ou uma cadeira. A isso, os economistas chamam de “decisão de alocação” de recursos escassos. Naturalmente, a decisão deve ser usar a madeira para produzir aquilo que tem mais valor social. Valor em economia é o grau de utilidade de um produto. Utilidade é a capacidade de satisfazer uma necessidade. É aí que entra essa entidade tão xingada pelos socialistas: o mercado. É no livre jogo da oferta (feita pelos produtores) e da procura (feita pelos consumidores), num mercado livre, que a alocação da madeira é decidida.
O pedaço de madeira é o mesmo, mas o valor que a sociedade atribui à escultura é um e o valor atribuído à cadeira é outro. A escolha social é expressada no preço. Se o produtor conseguir um preço de apenas R$ 80 pela escultura, portanto com prejuízo de R$ 20 (este é valor desagregado), e um preço de R$ 150 pela cadeira, portanto com lucro de R$ 50 (este é o valor agregado), é óbvio que ele, produtor, decidirá fabricar a cadeira.
- Os intelectuais fascistas de Mussolini (artigo de Rodrigo Constantino, publicado em 26 de abril de 2018)
- 200 anos de Marx: há algo a comemorar? (artigo de Gustavo Biscaia de Lacerda, publicado em 15 de maio de 2018)
- O enfermo mundo de palavras onde o esquerdismo vive (artigo de Percival Puggina, publicado em 25 de maio de 2018)
A cadeira tem um preço monetário maior porque, nas circunstâncias reais da vida, a sociedade (leia-se: os consumidores, o mercado, as pessoas, tanto faz) está dizendo que ela precisa mais da cadeira do que da escultura. E nesse aspecto não há nenhum juízo de valor. É uma simples manifestação das necessidades e preferências dos consumidores, nada mais que isso. Foi nesse ponto que Marx empacou e não encontrou solução para o que ficou conhecido como o “paradoxo do valor”.
No socialismo (ou comunismo, como queiram) não há mercado livre; sem mercado, não há preço; sem preço, não há cálculo econômico; sem cálculo, não há como a sociedade manifestar suas necessidades, suas preferências, suas escolhas, nem como resolver o problema da alocação de recursos escassos. O socialismo pressupõe abolir o direito de propriedade privada dos meios de produção, logo não aceita a existência da empresa privada nem do mercado livre.
Marx, que era muito melhor que os marxistas, entendeu o entrave, titubeou na escrita de sua obra econômica e não solucionou o problema do paradoxo do valor. Sua teoria econômica ficou inacabada, especialmente o livro O Capital, e somente foi concluída pelo esforço de seu amigo e financiador Friedrich Engels (1820-1895). A rigor, até hoje não se sabe ao certo quanto de Engels há na obra econômica de Marx.
O mercado não é perfeito. É apenas o mecanismo fundado na divisão do trabalho, no direito de propriedade e na liberdade econômica. É um sistema de cooperação social destinado a satisfazer as necessidades humanas, no qual se processam trocas indiretas sob o livre jogo da oferta e da procura.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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