Curitiba realiza hoje e amanhã a XI Jornada Sul-Brasileira de Psiquiatria com a presença de alguns dos principais médicos do país. Esse tipo de encontro demonstra o progresso técnico da especialidade médica que, cada dia mais, ameniza o sofrimento de pacientes e familiares.
Existe, no entanto, em nosso país e o Paraná não foge à regra um paradoxo entre os avanços científicos e a visão político-ideológica antipsiquiátrica, que produz um viés distorcido que se reflete nas políticas públicas em Saúde Mental, no âmbito do SUS.
Os problemas na área de Saúde Mental no Paraná referem-se principalmente ao fechamento de leitos psiquiátricos em Curitiba, sua região metropolitana e cidades importantes do interior, como Cascavel e Ponta Grossa. Ao mesmo tempo, serviços alternativos como os Centros de Atenção Psico-Social (Caps) não têm sido suficientes para substituir estes leitos, não só porque não foram criados em número suficiente, mas também porque efetivamente não substituem, tecnicamente falando, os leitos destinados a pacientes graves. Muitos acabam migrando para outras regiões, distantes da sua, para internamento em hospitais remanescentes, que, por sua vez, correm o risco de também fechar.
Na capital, o ritmo de fechamento de leitos foi contido, graças ao aporte de recursos extras da Secretaria Municipal de Saúde, complementando as diárias básicas do ministério. No restante do estado, contudo, os hospitais são obrigados a sobreviver com diárias muito abaixo de seus custos.
Outro problema no Paraná é a dificuldade em se conseguir medicamentos especiais, mais modernos, com menos efeitos colaterais, cuja compra por parte da Secretaria Estadual de Saúde tem sofrido restrições importantes, provocando a falta dos medicamentos e, conseqüentemente, interrupções de tratamento.
A visão ideológica e não-técnica é explicitada na chamada "Reforma Psiquiátrica", do Ministério de Saúde, mas que deveria ser melhor denominada como "Reforma da Assistência Psiquiátrica", pois a psiquiatria, como especialidade médica, não necessita de reforma assim como ocorre também com a cardiologia, a dermatologia e as demais especialidades médicas, que são dinâmicas e evoluem conforme o progresso da ciência.
Com esta visão preconceituosa contra a psiquiatria (talvez reflexo do antigo preconceito contra o doente mental), perde-se a abrangência de um atendimento integrado dos pacientes com transtornos mentais e emocionais de diferentes níveis de gravidade, dentro de um enfoque biopsicossocial. Corre-se, portanto, o risco de ver os avanços observados pela ciência subutilizados por conta de uma política de saúde equivocada.
Osmar Ratzke é presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria.