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Épocas de distanciamento temporal dos calendários eleitorais, pretéritos e futuros, revelam-se oportunas para a feitura de breves incursões e interpretações, desprovidas de paixões e/ou de improvisações, acerca da roupagem ideológica exibida nas propostas e providências voltadas à promoção do crescimento econômico do Paraná, principalmente nos anos recentes, marcados por guinadas mais bruscas.

No segundo qüinqüênio dos anos 1990, a base produtiva regional delineou apreciáveis alterações qualitativas em seu modus operandi, lideradas pelo adensamento do complexo automotivo, pela verticalização do agronegócio, pela sofisticação da produção das indústrias de madeira e de papel, pelo fortalecimento do intercâmbio externo, maximizado com o advento do Mercosul, pela otimização das vocações regionais e pelo amparo da retaguarda infra-estrutural.

Porém, essas novas características resultaram de fatores circunstanciais, em razão da inexistência de um conjunto de iniciativas articuladas dirigidas ao desenvolvimento. Tal distorção foi confirmada pela observação entusiasmada do governador do Paraná, no começo de 1996, por ocasião da decisão da Renault de instalar uma planta fabril no município de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), de que teria buscado e conquistado a multinacional francesa na "bandeira de escanteio".

Na verdade, as modificações do marco institucional do país realizadas nos primórdios da década de 1990, em linha com o atendimento das regras neoliberais impostas pelas instituições multilaterais, configuraram apreciáveis bloqueios à maturação completa da substancial carteira de investimentos produtivos anunciada para o Paraná naquele estágio. Como exemplos patéticos e práticos dessas anomalias emergiram a crise do agronegócio e o imbróglio da transferência da operação de parte das rodovias federais que cortam o território estadual, por prazo de 25 anos, a um número restrito de concessionárias privadas, em detrimento da participação de bancos, investidores estrangeiros e fundos de pensão.

No começo do novo milênio, a fadiga do modelo era reconhecida pelos seus próprios arautos internacionais, na forma de críticas diretas às ações e aos frutos podres colhidos pelas entidades disciplinadoras, particularmente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. No Brasil, os ciclones transformistas começaram a soprar em 2002, com a conformação da vitória eleitoral de uma corrente de centro-esquerda.

A partir de 2003, a aliança política hegemônica priorizou a opção preferencial, em simultâneo, por ricos e pobres, enxergados, respectivamente, como os rentistas hospedados no mercado financeiro e os beneficiários dos programas públicos de transferência de renda. O descarte, do pacto de sustentação do governo, das categorias consideradas médias na pirâmide social, eliminou as chances de multiplicação de mercados mais encorpados.

Desde então, no Paraná, proliferaram atitudes de resgate da participação estatal na organização do sistema econômico e de alterações no relacionamento entre o setor público e os atores privados, com viés hostil, conflituoso e, por vezes, concorrencial. Mais especificamente, o governo passou a perseguir a revisão dos incentivos fiscais às grandes corporações, a reversão da desestatização da infra-estrutura, a aplicação de reduções de tarifas públicas e o estímulo às microempresas por meio da isenção do recolhimento do ICMS para cerca de 120 mil estabelecimentos.

Nesse particular, prevaleceu a aparente falta de compreensão adequada dos componentes determinantes da sincronização dinâmica do tecido econômico e social em moldes capitalistas, no qual o núcleo de elaboração, correção e escolha de políticas de investimentos em ampliação do produto potencial é reservado às empresas ostentadoras de maior envergadura técnica e financeira, públicas ou privadas, que exercem o poder de indução e de arraste do restante do sistema. Para os pequenos negócios, o ciclo econômico virtuoso é mais relevante do que o recebimento de benesses de natureza tributária.

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