Há anos, ouço pais me dizerem que seus filhos se tornaram estranhos dentro de casa. Falas como essas são comuns em pais que descobrem que seu filho é dependente químico, que seu filho sofre bullying na escola ou que o pratica. Filhos precisam ser conhecidos o suficiente para que qualquer tênue modificação no comportamento, na rotina, no humor, seja rapidamente percebida pelos pais. Por isso, algumas práticas são fundamentais.

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Observe-o. Perceba com calma e paciência quais as necessidades do seu filho. Não o compare com irmãos e muito menos com filhos de outras pessoas. Seu filho é único e tem suas próprias necessidades. Veja do que gosta. Estude sua rotina.

Aproxime-se. Pré-adolescentes e adolescentes podem resistir a uma aproximação, mas, se você não quer levar sustos, acredite: tolere suas reclamações e tente conversar. Normalmente uma vez só não é o suficiente. Tenha sensibilidade para tentar em momentos diferentes, começar por assuntos diferentes. Você pode encontrar um caminho que facilite. Por exemplo, não resolve muito querer conversar após um dia exaustivo de estudos. Assim como você após o trabalho, muitas crianças e adolescentes chegam da escola cansados e irritados. Espere um pouco. Também não adianta conversar sobre aquilo de que você gosta. Você já está observando-o e deve ter identificado algumas coisas das quais ele gosta. Para isso, vale tudo: entender o jogo de computador, entender de Facebook (e já aproveitando, não seja um pai/mãe desagradável que deixa recadinhos amorosos em redes sociais. Ele vai te bloquear e você não ficará sabendo), saber sobre o que lê etc. Fale sobre isso. Dê preferência a uma conversa no nível do seu filho, em sua linguagem, de sua perspectiva. O assunto pode ser genérico. Basta criar um espaço de diálogo. Lembre-se de que o objetivo é aproximar-se.

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Crie vínculos. Muitos pais não percebem, mas acabam enfraquecendo o vínculo com seus filhos conforme eles crescem. Vínculo não é abraçar e beijar toda hora. Vínculo é ter um filho que sabe que pode contar com você. Acredite! Isso é precioso em situações delicadas como risco de uso de drogas, problemas na escola, bullying, dúvidas sobre sexualidade etc. Para isso, seja acolhedor. Tenha paciência e o ouça. Para pais com filhos acima de 10 anos, vale inserir pequenas discussões sobre problemas. Peça a opinião deles sobre assuntos da sociedade: a discriminação, o racismo, a violência, a política. Aqui o objetivo é mostrar a ele que você valoriza sua opinião. Saiba aceitar que seu filho pensa diferente de você. Nessa escuta você conhecerá muito sobre ele. Faça parte do seu mundo. Permita que amigos de seu filho venham à sua casa. Escute-os, brinque com eles, dê risada. Crianças e adolescentes adoram rir de seus feitos na escola. Você poderá conferir aspectos éticos e morais envolvidos nas escolhas e decisões. Saiba pensar como eles e saiba ser adulto. Procure aconselhar de forma branda e pontual. Sem sermão.

E, por fim, mantenha tudo isso. Pronto! Agora você deve ter informações preciosas sobre seu filho e suas necessidades. Saber seus gostos, de que maneira pensa sobre o mundo e as pessoas. Mantenha isso. Faça desses momentos uma constante. Isso evitará que você seja pego de surpresa e descubra que não conhecia o filho que tem.

Se em algum momento você perceber alterações significativas no comportamento, no humor, nas amizades, queda de rendimento escolar, mudanças no padrão de sono e alimentar, fique alerta! Seu filho pode estar pedindo ajuda. Procure um profissional capacitado para orientá-lo.

Leticia de Melo Sarzedas, psicóloga, é mestre em Psicologia pela Unesp, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica e formada em Terapia Familiar pelo Instituto de Terapia Familiar de Milão.

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