Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash
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Não se falou nas primeiras semanas de julho. Com a crise de fornecimento de energia e os temores de recessão mais fortes no radar da Europa, pela primeira vez em seus 20 anos de história, o euro atingiu a paridade com o dólar. A cotação da moeda europeia chegou a US$ 1, registrando uma queda de cerca de 12% desde o início do ano.

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Historicamente mais valorizado que o dólar, o euro vem perdendo valor constantemente nos últimos meses devido à expectativa por uma recessão na Europa e ao crescente sentimento de aversão ao risco, o que leva investidores a optar pela moeda americana. Também pesa sobre o euro a ameaça de uma crise energética na Europa, com os países já se preparando para uma possível interrupção no fornecimento de gás natural pela Rússia. Ao mesmo tempo, a moeda dos EUA segue valorizando pelas expectativas de que o Federal Reserve (BC dos EUA) continue aumentando a taxa de juros.

Mas o fato é que a situação não está confortável para ninguém. Sete em cada 10 economistas nos Estados Unidos acreditam que o mundo vai entrar em recessão neste ou no próximo ano, de acordo com uma pesquisa do jornal britânico Financial Times e da Escola de Negócios Booth da Universidade de Chicago. A sondagem foi realizada no início de junho, antes da última semana de forte queda das ações e do novo aumento de juros pelos bancos centrais mundiais, portanto, é provável que essa proporção tenha aumentado ainda mais.

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Entrar em recessão tem consequências amargas: o colapso do investimento, consumo e transações causa fechamento de negócios, perdas massivas de empregos e incapacidade de pagar dívidas que pode levar muitos à falência. Esse fantasma está rondando em especial o próprio Estados Unidos que segue com sua política monetária austera e deve encerrar 2022 com a taxa básica de juros acima dos 3 %.

Notadamente, não deveremos ter uma crise do tamanho da verificada em 2008, mas ainda assim os desdobramentos sobre o crescimento podem ser relevantes e a posterior recuperação não será tão rápida quanto a retomada pós-pandêmica. Neste contexto, a situação europeia tem chamado a atenção dos investidores, em especial agora com a parada para manutenção do principal gasoduto do continente, o Nord Stream 1, que leva gás russo para a Alemanha.

O evento é importante porque as preocupações energéticas na Europa estão ficando cada vez mais sombrias, com uma Rússia engajada em sua posição de prejudicar o bloco por causa de suas pesadas sanções e apoio à Ucrânia. Moscou fornece à União Europeia cerca de 40% das importações de gás natural e, em países como a Alemanha, esse número chega a 60%. O gás natural é usado principalmente para aquecimento, alimentação e geração de energia para a indústria pesada.

Um dólar mais forte no mundo e uma recessão na Europa poderiam ter efeitos nocivos para a economia global, respingando inclusive o Brasil, muito sensível ao humor internacional. Como somos fornecedores de matérias-primas para os europeus e consumidores de seus maquinários industriais, não há dúvidas que iremos sentir os efeitos da crise europeia.

De todo modo, o Brasil pode sofrer um tombo maior com uma recessão global se a crise econômica atingir com mais força a China, maior importadora dos produtos brasileiros. Uma desaceleração mais forte lá vai afetar de forma imediata nosso setor primário, mas depois o restante da população vai sofrer também porque vai circular menos dinheiro na economia com menos exportações.

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Na outra ponta, se a recessão global for branda e não vier acompanhada de uma nova crise financeira global, é possível que desta vez o Brasil esteja entre os países que menos sofrerão. O combate à pressão inflacionária aqui está muito mais adiantado do que no exterior. No Brasil, a taxa básica de juros já supera a inflação em 12 meses. Além disso, a taxa de desemprego nacional ainda é muito elevada, não alimentando a inflação de custos. A maior parte dos ativos financeiros brasileiros não teve altas similares a de outras economias. Por isso tem caído menos. Com a China controlando tão duramente a pandemia o lockdown pode terminar logo e a reativação de seu mercado manterá a demanda por commodities forte, o que favorecerá as exportações brasileiras e o Real, limitando a pressão inflacionária no país.

Não custa lembrar que o PIB Brasileiro cresceu mais do que o da maioria das outras grandes economias no primeiro trimestre. É possível que isso se repita também no segundo trimestre e no acumulado do ano. É um prognóstico positivo? É sim, eu sei. Mas pela primeira vez em muitos anos pode ser considerado muito mais factível do que sonhador.

Ahmed Kadura é especialista em startup, CEO da Yupp e proprietário da KADS capital.