Os guarda-costas dos primeiros-ministros britânicos carregam invariavelmente um distinto guarda-chuva, mas não se trata de um ornamento elegante, aliás altamente prestigiado na indumentária local e sim de um instrumento de trabalho. Quando seus patrões aparecem em público, os seguranças ficam com o guarda-chuva aberto em estado de atenção absoluta inspecionando as pessoas próximas. Quando necessário, o artefato é habilmente manipulado para proteger a "otoridade" de ovos e de outros objetos voadores indesejáveis. Como seguro morreu de velho, é conveniente aos nossos pais da pátria familiarizarem-se com o manejo defensivo dos guarda-chuvas pois o humor da população em relação a eles não anda lá essas coisas.
Mas o Brasil é Brasil mesmo quando se indigna e a cena dos protestantes no aeroporto de Brasília anunciando, como camelôs, o óleo de peroba para os deputados que desembarcavam é inesquecível. A espinafração que o arcebispo passou nos presidentes da Câmara e do Senado também. Aldo Rebelo e Renan Calheiros ouviram com ar mais contrito e sério do que cachorro em canoa. Mas garanto que não deram a mínima pois ambos se enquadram perfeitamente naquela distinção que os espanhóis fazem a respeito das damas da noite: "hay mujeres viejas... y mujeres muy viejas". Os dois são damas "muy viejas". Mesmo assim, Aldo Rebelo, comunista, marxista-leninista e supostamente materialista e ateu, deu uma entrevista à saída da Catedral dizendo esperar que Deus esteja com ele. "Com quem, cara-pálida?" deve ter exclamado o Senhor que, embora eterno e infinito, deve ter limites em Sua divina paciência.
Aqui no Paraná, as coisas foram mais agressivas e diz a imprensa que vários dos eleitos resolveram lavar a honra aos sopapos com os que os apupavam. Na realidade, a hostilidade demonstrada em relação aos parlamentares em vários locais de diplomação possivelmente não tinham endereço fixo, a não ser em casos emblemáticos como Ricardo Berzoini, Paulo Maluf e Antônio Palocci. O que a população estava fazendo não era vaiar, xingar e hostilizar fulano ou beltrano que possivelmente nem conheciam e sim extravasando sua frustração pelo nível deprimente que a política atingiu em nosso país. Os que apupavam estavam vocalizando sua impotência ao ver que nos parlamentos que se renovam estarão presentes muitos dos que os conspurcaram envolvendo-se com mensalões e sanguessugas; estava aliviando sua frustração com nossos códigos judiciais bizantinos que estenderão agora a capa da impunidade ou pelo menos da lentidão punitiva sobre figuras que mereceriam estar tirando impressões datiloscópicas em uma delegacia de polícia e não transitando com desenvoltura nos salões da República. A população, ao generalizar sua aversão aos políticos, estava agindo como agem as turbas, sem serenidade nem discernimento, porque era movida por uma indignação surda com os que se mostraram complacentes ou convenientemente omissos bem como com os que se enrolam na bandeira da democracia para justificar todos os desmandos e todas as impropriedades, quando na realidade estão contribuindo para destruí-la.
No Brasil, a democracia não está sendo ameaçada pelas "vivandeiras alvoroçadas que vão aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder" como disse em prosa convoluta o marechal Castello Branco quarenta anos atrás. Os granadeiros estão conspicuamente ausentes do processo político brasileiro e é bom que assim se mantenham. Mas a democracia é crescentemente ameaçada pela sistemática desmoralização das instituições, pelo sentimento geral de impunidade, pela desfaçatez com que cada grupo político interpreta as leis de acordo com suas conveniências, pela percepção generalizada de que a autoridade pública se esfacelou.
Em todos os seus protestos contra o aumento dos deputados, a população foi muito mais ordeira do que os "movimentos sociais" que invadiram impunemente propriedades privadas produtivas, interromperam serviços públicos, ocuparam prédios do governo, hidrelétricas e portos para avançar suas reivindicações e apressar a marcha da história. O protesto contra o aumento dos salários sujou alguns ternos, deixou algumas orelhas ardendo, mas nem de longe se comparou com o estrago que o tal MLST fez no prédio da Câmara deixando para trás um segurança gravemente ferido e um rastro de destruição cujo conserto foi pago com o dinheiro de todos.
Aliás, falando nisso, onde andará a loura de traseiro tatuado, perita em manejar um porrete para quebrar os terminais eletrônicos do prédio da Câmara? Não sei não mas, em se tratando do Brasil, não surpreenderia ninguém se reaparecesse pelada nas páginas de uma revista masculina.
PS: Um Feliz Natal para todos. Que o bom Deus nos dê a todos o futuro que merecemos nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Que nos dê mais Diegos Hipólitos e Daianes dos Santos e menos mensaleiros. Mais Bernardinhos e seleções campeãs do mundo de vôlei e menos sanguessugas.
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