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Pela autossuficiência da cultura do trigo no Brasil

Embora afirme ter como um de seus desafios o estímulo à produção do trigo, o governo federal brasileiro continua sem adotar uma política que contemple um planejamento de médio e longo prazo para incentivar e garantir a autossuficiência do país na cultura do grão. Adotar medidas nesse sentido é uma questão que reside primordialmente em uma decisão política que o governo insiste em adiar continuadamente. De fato, trata-se de uma discussão que se mantém pendente desde a década de 40.

A safra para o período 2012/13 (agosto/julho) prevê a importação de 6,7 milhões de toneladas do grão contra 6,2 milhões do período anterior, segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). É o maior volume desde o ano-safra 2006/07. A justificativa para o aumento da importação é uma esperada queda na produção do país, com uma área plantada 12,6% menor que na temporada passada – o que demonstra, uma vez mais, a falta de incentivo para o setor.

Quando se fala em produzir trigo, a primeira pergunta que se deve fazer é se o Brasil deve ou não investir no setor e se realmente é possível alcançar a autossuficiência no setor. A resposta é sim. E por várias razões.

Sob o ponto de vista técnico, a produção do trigo é estratégica porque se trata de uma cultura de inverno que ajuda a proteger o solo e compor melhor os custos de produção dos agricultores para as culturas de verão. As terras e as sementes estão disponíveis. Também temos agricultores preparados, tecnologia e alta capacidade produtiva. Além disso, o plantio do trigo tem grande importância na geração de empregos, uma vez que mantém ocupados, durante o perío­­do de produção, 180 mil trabalhadores. Movimenta ainda, de forma positiva, a economia das regiões envolvidas.

Do ponto de vista da segurança alimentar, o incentivo à cultura do trigo é ainda mais fundamental, uma vez que os estoques mundiais do grão são muito baixos e qualquer problema de quebra na safra em função de problemas climáticos pode gerar uma disparada nos preços, como a que já vem ocorrendo nos últimos meses, elevando o preço do trigo argentino, por exemplo, de US$ 250/tonelada para US$ 300.

É preciso ressaltar, ainda, que a resposta da produção é rápida. A partir da implementação de um plano de incentivos, em três a cinco anos o Brasil já pode alcançar a autossuficiência. Para isso, é preciso oferecer alternativas de financiamento e seguro para os agricultores, adotar uma política de preço mínimo e evitar a importação nos períodos de colheita. Ao adotar medidas como essas durante minha gestão no Ministério da Agricultura, obtivemos um aumento de 30% na produção entre 2008 e 2009.

Por fim, o governo federal precisa abandonar a crença de que importar trigo ainda é a solução mais barata para a composição do preço de produtos que utilizam o grão como matéria-prima – caso, por exemplo, do pão francês, em que, na verdade, o trigo representa apenas 15% do custo total de produção.

Reinhold Stephanes, ex-ministro da Agricultura, é deputado federal pelo PSD.

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